Não vejo a hora de passarem as eleições. Tenho visto filhos brigando com pais, mulher e marido trocando comentários sarcásticos, amigos e parentes rompendo relações. Não sei se estou enganada, mas entendo que o motivo mais recorrente dos embates políticos atuais é intolerância com a opinião alheia.
Tenho visto curadora falsificar obra de arte para defender seu voto e fazer graça. Tenho reparado que muita gente escolarizada distorce informações e propaga inverdades, no afã de promover o convencimento e ajudar seu candidato(a). Tenho visto muita raiva no ar e noto em muita gente uma vontade louca de impor seu ponto de vista no grito ou a qualquer preço. Dane-se a educação, às favas a inteligência alheia. Parece que pegaram a vuvuzela e tudo o que importa é fazer barulho e insistir até que os adversários (adversários?!) entreguem os pontos por exaustão.
Não sei é a juventude da democracia brasileira que explica esse comportamento moleque e meio infantil, do qual as tiradas de humor são a melhor parte, quando não descambam para baixarias. Mas noto que a internet e, em particular, as redes sociais ampliaram o debate político no Brasil, ainda que esse debate seja em geral raso como um pires.
Os campeões de compartilhamento são os textos com potencial de estragar a reputação de um candidato ou de outro, de um partido ou de outro. Parece normal. O país está dividido. O nível dos comentários é em geral bastante baixo. O xingamento e o preconceito suplantam de longe os argumentos.
Não vou entrar no mérito de cada candidatura aqui e agora. Estou apenas observando um fenômeno de comunicação e de estado de espírito. Os candidatos desse segundo round, digo turno, não têm ajudado nesse quesito. Parecem preocupados demais em meramente destruir a imagem alheia, sem pensar no destino dos escombros que provocam nem como se fará para promover uma nova construção social.
Mas noto também que há bastante gente irritada com esse estado de coisas, fugindo de temas políticos, se afastando dos fanáticos, torcendo para que essa onda enorme cheia de lixo passe logo e vá quebrar lá longe.
O problema é que a praia é nossa.
Texto de Marion Strecker, na Folha de São Paulo.
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