Antonio Saavedra e Natalia Mendez queriam que seus três filhos estudassem e ficassem longe de problemas. Eles os criaram sem TV, mas rodeados de livros, muitos dos quais hoje estão amontoados em uma biblioteca bem abastecida no La Morada, o restaurante mexicano que a família administra na Willis Avenue, no bairro de South Bronx.
Os filhos do casal às vezes mergulham nos livros quando os negócios ficam devagar. Não que agosto tenha sido um mês calmo. Marco Saavedra, o filho do meio que também é o único homem --e às vezes trabalha como garçom, atendente e entregador-- passou duas semanas em uma prisão para imigrantes do Arizona.
Por opção.
Marco faz parte de um grupo de nove homens e mulheres jovens que se autodenominam "Dreamers" (Sonhadores) --imigrantes que foram trazidos ilegalmente para os Estados Unidos por seus pais quando eram crianças e que querem que o governo federal norte-americano lhes forneça um caminho para a cidadania. Em julho passado, ele voltou ao México e tentou entrar de volta nos Estados Unidos, pedindo asilo após alegar temer sofrer perseguição no México, um país que ele não via desde que era criança. Marco foi solto no início de agosto, mas seu caso ainda aguarda uma decisão.
Inicialmente, a decisão de Marco de realizar o que ele considera um ato de desobediência civil desagradou seus pais. Mas ele disse que sua atitude foi o resultado inevitável da reflexão não apenas sobre a sua situação, mas sobre a de milhares de outros jovens como ele.
"A educação, a consciência e a sensibilidade que eu recebi na escola me desafiaram a viver de acordo com esses ideais", disse Marco, 23, que se formou no Kenyon College há dois anos. "Qual é a finalidade da educação se não para combatermos as injustiças diárias? A educação fica sem sentido se você se torna insensível ao que acontece em sua comunidade."
A jornada da família de Marco é semelhante à de muitas outras em Mott Haven, que em um século passou de um enclave irlandês para uma das maiores comunidades de mexicanos da cidade de Nova York. Os pais de Marco foram para Nova York em 1992, depois de terem tido uma existência pobre como agricultores em sua cidade natal, San Miguel Ahuehuetitlán, em Oaxaca. O Sr. Saavedra já tinha estado nos Estados Unidos antes, colhendo uvas na Califórnia. Da segunda vez, ele sugeriu a sua esposa que eles tentassem a sorte em Nova York durante um ano, na esperança de economizar dinheiro suficiente para retornar ao México e começar um pequeno negócio. Sua mulher, que queria montar uma loja de costura em casa para poder trabalhar e cuidar dos filhos, concordou.
Eles deixaram Marco e sua irmã, Yajaira, com parentes, e partiram para Nova York, onde ele encontrou trabalho como lavador de pratos em um restaurante e ela, em uma fábrica de roupas. Eles viviam em Washington Heights, onde a Sra. Mendez ficou impressionada com a vizinhança.
"Onde quer que eu fosse eu via escolas", disse ela. "Eu não sabia o que havia lá dentro, mas havia uma escola a cada dois ou três quarteirões. Eu pensei que seria a mãe mais feliz do mundo se os meus filhos pudessem frequentar as escolas daqui."
Assim, o plano de ficar apenas um ano em Nova York ficou para trás. O casal pediu que seus dois filhos viessem encontrá-los. Logo, sua terceira filha nasceu em Nova York. Criando os três entre a igreja e a escola, o casal exigiu que seus filhos se qualificassem. Marco ganhou bolsas de estudo financiadas por capital privado e frequentou a Deerfield Academy, em Massachusetts e, posteriormente, o Kenyon College, em Ohio.
Mesmo antes de Marco começar a faculdade, seus pais sabiam que tinham cometido um erro por não terem legalizado seu status de imigrantes. Por isso, eles acabaram recorrendo a um advogado. O Sr. Saavedra disse que o advogado levou US$ 15 mil deles e não fez nada.
Eles admitem estar descontentes com a decisão de Marco de voltar brevemente para o México neste verão --um país que ele não conhece-- para chamar a atenção para sua causa. Eles esperavam que ele se transformasse em um profissional liberal ou em um engenheiro, talvez. Em vez disso, Marco se tornou um ativista da Aliança Nacional da Juventude Imigrante.
Quando Marco explicou sua decisão a seus pais, no início deste verão, seu pai se irritou. Sua mãe, no entanto, compreendeu lentamente a intenção do filho.
"Ele disse que poderia ajudar a mudar a lei para outros imigrantes", relembra ela. "Eu senti seu entusiasmo. Eu entendi a vontade do coração dele, que essa era a missão dele".
Enquanto Marco estava na prisão, seu pai falava com ele diariamente. Essas conversas mudaram o Sr. Saavedra. "Eu não tenho raiva dele", disse o pai. "Eu tenho que apoiar o meu filho".
Ele e sua mulher acreditam que o futuro é incerto para eles também. Eles têm falado publicamente sobre o caso de Marco, apesar de seu próprio status de ilegais no país. Apesar de terem dito que pagaram seus impostos, contribuíram para sua comunidade e ficaram longe de problemas, eles estão prontos para fazer um sacrifício final.
"Se tivéssemos que voltar para o nosso país para amparar nosso filho, seria difícil, mas nós voltaríamos", disse Mendez. "Nós crescemos lá. Ele não. Se ele puder ficar aqui e nós tivermos que voltar, nós não ficaremos com medo".
Os filhos do casal às vezes mergulham nos livros quando os negócios ficam devagar. Não que agosto tenha sido um mês calmo. Marco Saavedra, o filho do meio que também é o único homem --e às vezes trabalha como garçom, atendente e entregador-- passou duas semanas em uma prisão para imigrantes do Arizona.
Por opção.
Marco faz parte de um grupo de nove homens e mulheres jovens que se autodenominam "Dreamers" (Sonhadores) --imigrantes que foram trazidos ilegalmente para os Estados Unidos por seus pais quando eram crianças e que querem que o governo federal norte-americano lhes forneça um caminho para a cidadania. Em julho passado, ele voltou ao México e tentou entrar de volta nos Estados Unidos, pedindo asilo após alegar temer sofrer perseguição no México, um país que ele não via desde que era criança. Marco foi solto no início de agosto, mas seu caso ainda aguarda uma decisão.
Inicialmente, a decisão de Marco de realizar o que ele considera um ato de desobediência civil desagradou seus pais. Mas ele disse que sua atitude foi o resultado inevitável da reflexão não apenas sobre a sua situação, mas sobre a de milhares de outros jovens como ele.
"A educação, a consciência e a sensibilidade que eu recebi na escola me desafiaram a viver de acordo com esses ideais", disse Marco, 23, que se formou no Kenyon College há dois anos. "Qual é a finalidade da educação se não para combatermos as injustiças diárias? A educação fica sem sentido se você se torna insensível ao que acontece em sua comunidade."
A jornada da família de Marco é semelhante à de muitas outras em Mott Haven, que em um século passou de um enclave irlandês para uma das maiores comunidades de mexicanos da cidade de Nova York. Os pais de Marco foram para Nova York em 1992, depois de terem tido uma existência pobre como agricultores em sua cidade natal, San Miguel Ahuehuetitlán, em Oaxaca. O Sr. Saavedra já tinha estado nos Estados Unidos antes, colhendo uvas na Califórnia. Da segunda vez, ele sugeriu a sua esposa que eles tentassem a sorte em Nova York durante um ano, na esperança de economizar dinheiro suficiente para retornar ao México e começar um pequeno negócio. Sua mulher, que queria montar uma loja de costura em casa para poder trabalhar e cuidar dos filhos, concordou.
Eles deixaram Marco e sua irmã, Yajaira, com parentes, e partiram para Nova York, onde ele encontrou trabalho como lavador de pratos em um restaurante e ela, em uma fábrica de roupas. Eles viviam em Washington Heights, onde a Sra. Mendez ficou impressionada com a vizinhança.
"Onde quer que eu fosse eu via escolas", disse ela. "Eu não sabia o que havia lá dentro, mas havia uma escola a cada dois ou três quarteirões. Eu pensei que seria a mãe mais feliz do mundo se os meus filhos pudessem frequentar as escolas daqui."
Assim, o plano de ficar apenas um ano em Nova York ficou para trás. O casal pediu que seus dois filhos viessem encontrá-los. Logo, sua terceira filha nasceu em Nova York. Criando os três entre a igreja e a escola, o casal exigiu que seus filhos se qualificassem. Marco ganhou bolsas de estudo financiadas por capital privado e frequentou a Deerfield Academy, em Massachusetts e, posteriormente, o Kenyon College, em Ohio.
Mesmo antes de Marco começar a faculdade, seus pais sabiam que tinham cometido um erro por não terem legalizado seu status de imigrantes. Por isso, eles acabaram recorrendo a um advogado. O Sr. Saavedra disse que o advogado levou US$ 15 mil deles e não fez nada.
Eles admitem estar descontentes com a decisão de Marco de voltar brevemente para o México neste verão --um país que ele não conhece-- para chamar a atenção para sua causa. Eles esperavam que ele se transformasse em um profissional liberal ou em um engenheiro, talvez. Em vez disso, Marco se tornou um ativista da Aliança Nacional da Juventude Imigrante.
Quando Marco explicou sua decisão a seus pais, no início deste verão, seu pai se irritou. Sua mãe, no entanto, compreendeu lentamente a intenção do filho.
"Ele disse que poderia ajudar a mudar a lei para outros imigrantes", relembra ela. "Eu senti seu entusiasmo. Eu entendi a vontade do coração dele, que essa era a missão dele".
Enquanto Marco estava na prisão, seu pai falava com ele diariamente. Essas conversas mudaram o Sr. Saavedra. "Eu não tenho raiva dele", disse o pai. "Eu tenho que apoiar o meu filho".
Ele e sua mulher acreditam que o futuro é incerto para eles também. Eles têm falado publicamente sobre o caso de Marco, apesar de seu próprio status de ilegais no país. Apesar de terem dito que pagaram seus impostos, contribuíram para sua comunidade e ficaram longe de problemas, eles estão prontos para fazer um sacrifício final.
"Se tivéssemos que voltar para o nosso país para amparar nosso filho, seria difícil, mas nós voltaríamos", disse Mendez. "Nós crescemos lá. Ele não. Se ele puder ficar aqui e nós tivermos que voltar, nós não ficaremos com medo".
Reportagem de David Gonzalez, para o The New York Times, reproduzida no UOL. Tradutor: Cláudia Gonçalves
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