ENSAIO - DENNIS OVERBYE
Filósofo torce por desencontro com ETs
Se não estamos sozinhos, onde estão os extraterrestres?
As últimas semanas têm sido promissoras. Em julho, no 46° aniversário do primeiro pouso na Lua, o empresário russo Yuri Milner anunciou que irá gastar US$ 100 milhões nos próximos dez anos para procurar sinais extraterrestres. Na mesma semana, a Nasa, a agência espacial americana, anunciou a descoberta daquele que pode ser o planeta mais parecido com a Terra já observado fora do nosso Sistema Solar -o Kepler 452b, a "apenas" 1.400 anos-luz. Porém, nem todos estão entusiasmados com essas notícias. É o caso do filósofo Nick Bostrom, da Universidade Oxford, que, em artigo publicado em 2008 na "Technology Review", declarou que seria um péssimo sinal para o futuro da humanidade se encontrássemos um mero micróbio agarrado a uma rocha em Marte. Por quê? O motivo recua a 1950, quando o físico Enrico Fermi deixou escapar uma pergunta que se tornaria famosa entre os astrônomos: "Cadê todo mundo?". O fato de não haver nenhuma evidência de que alienígenas já visitaram a Terra convenceu Fermi de que viagens interestelares são impossíveis. Seria simplesmente demorado demais chegar a qualquer lugar. Além disso, existem bilhões de planetas potencialmente habitáveis na galáxia. Então onde estão esses alienígenas ou seus artefatos? Não achamos nada. Se a vida é tão fácil, alguém, de algum lugar, já deveria ter batido à nossa porta a esta altura. Esse é o paradoxo de Fermi. A explicação mais simples para essa situação, de acordo com Bostrom e outros, é que não há outras civilizações que navegam pelo Espaço. Além disso, deve existir alguma coisa, segundo Bostrom, que ou impede o surgimento da vida ou a interrompe antes que ela possa conquistar as estrelas. Ele chama isso de Grande Filtro. É possível imaginar gargalos na evolução da vida -desde a necessidade de átomos que se combinem inicialmente em cadeias de RNA até guerras nucleares e mudanças climáticas- que venham a constituir um Grande Filtro. A grande questão para Bostrom é se o nosso Grande Filtro está no passado ou no futuro. Se não há mais nada lá fora, então talvez nós tenhamos sobrevivido a seja lá o que for. Por outro lado, se há companhia por aí, isso significa que o Grande Filtro está à nossa frente. Estamos condenados. Esse é um conhecimento incrível de se obter numa idade aparentemente tão tenra enquanto espécie. É também um exercício verdadeiramente corajoso acerca do poder da razão humana. Talvez corajoso demais. Há uma espécie de precedente para isso num velho enigma conhecido como Paradoxo de Olbers, em alusão a Heinrich Wilhelm Olbers, astrônomo do século 19 que se perguntou por que o céu noturno era escuro. Num Universo infinito, cada linha de visão terminaria em uma estrela, raciocinou ele, e até mesmo as nuvens de poeira deveriam brilhar tão intensamente quanto o dia. Sábios tão díspares quanto o físico escocês Lord Kelvin e o escritor Edgar Allan Poe sugeriram que o céu escuro da noite era uma pista de que o Universo seria finito, pelo menos no tempo, e teve um começo, uma noção agora consolidada pelo Big Bang. Se Olbers enxergou a aurora dos tempos, talvez Fermi e Bostrom tenham visto o seu ocaso. Isso não deveria nos surpreender. Nada dura para sempre. Os pais da busca por vida inteligente extraterrestre, Carl Sagan e Frank Drake, salientaram que um desconhecido elemento-chave nas suas equações era o tempo médio de vida das civilizações tecnológicas. Uma vida curta demais eliminaria a possibilidade de sobreposição de civilizações. O melhor que se poderia esperar seria outra fase evolutiva no desenvolvimento da vida terrena, num zigue-zague rumo a sabe-se lá o quê. Em alguns bilhões de anos o Sol vai morrer, e a Terra também. O que os cálculos de Bostrom, com seu quê de ficção científica, têm em comum com os de outros é o fato de serem extrapolações. Acredite neles por sua conta e risco. Como gostava de dizer o grande biólogo e autor científico Lewis Thomas, somos uma espécie ignorante. É por isso que fazemos a experiência.
Reprodução de texto do The New York Times, na Folha de São Paulo.
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