Xico Sá é um exemplar do jornalista ideal: imparcial e apartidário. Ninguém pode acusá-lo de ser patrocinado pelo PT, ou por que partido seja. Ele é patrocinado, caso raro no jornalismo brasileiro moderno, pela própria consciência.
Fora estes atributos, é um sujeito inteligente, agudo, sagaz. E franco.
Por isso tudo, deve-se ouvi-lo com atenção.
Poucas vozes captam com tamanha precisão o estado da mídia brasileira. Não só da mídia, a rigor – mas da cena política nacional.
Nas últimas horas, Xico Sá produziu alguns haicais – como eram conhecidos os poemas sintéticos japoneses – que jogam luzes nas sombras da Lava Jato.
Ele os postou no Twitter.
Grande juiz Moro/ só no cu fácil da vaca/ jamais no cu do touro.
Clap, clap, clap. De pé.
Mil linhas que você pode escrever não substituem o haikai de Xico Sá.
Mais que um poema, é um lamento, um manifesto pungente, um grito de indignação pelo que está acontecendo no Brasil.
Que Justiça é esta? Que mídia é esta?
Ninguém pode acusar Xico Sá de ser petista, torcedor, militante.
Ele é apenas um jornalista honrado que se cansou de ver tanta sujeira no país em favor da plutocracia.
Ele vem, aos poucos, no Twitter, mostrando bastidores da mídia que o grande público ignora.
Contou nesta terça, por exemplo, que em seus tempos de jovem repórter havia dois personagens “indenunciáveis”.
Quer dizer: nenhum jornalista podia falar mal deles que o patrão não deixava.
Eram Serra e Romeu Tuma. Serra é Serra e Tuma, “grande fonte” de Xico, foi um homem poderoso na polícia.
Por que Tuma era blindado?
Segundo Xico, por gratidão pelos serviços prestados. Tuma foi vital, na narrativa de Xico, para que as empresas de jornalismo importassem equipamentos para as redações a partir de 1975.
Sem pagar impostos.
Alguns tuítes de Xico sobre o tema:
1) “O bravo Tuma importou ilegalmente os equipamentos para o Brasil.”
2) “Que tal pedir para a mídia metida a honesta que apresenta nota fiscal do equipamento importado de 1975 para cá?”
3) “O maior personagem da mídia brasileira é Romeu Tuma, minha grande fonte. Importou os equipamentos para Estadão, Globo e Folha.”
Você tem que ser muito cínico, hoje, para trabalhar nas grandes corporações de mídia.
Xico Sá não aguentou.
Ainda bem para a sociedade, que por ele pode saber de coisas que permaneriam escondidas por toda a eternidade.
Reprodução de texto de Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo.
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