Uma das grandes confusões de economistas e estatísticos se dá na definição das relações de causa e efeito.
Um dos bordões usuais é a afirmação que todos os países com Banco Central independente melhoraram no controle da inflação.
A afirmação é falsa. As pesquisas indicam que a regra vale apenas para países industrializados e com moedas conversíveis.
Funcionário do Banco Central, Márcio Antônio Estrella
compilou os principais estudos sobre independência vs inflação, e
publicou o paper "Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central - uma
abordagem teórica e prática sobre o funcionamento de uma autoridade
monetária no Brasil e no mundo".
"No tocante aos países emergentes, os estudos são
mais escassos e, mesmo os que enfocam países emergentes, vários autores
não encontraram nenhuma relação significativa entre inflação e a
independência legal dos bancos centrais", diz o trabalho.
Quando se utiliza como critério de independência a
rotatividade dos presidentes de BCs, se obtém uma "clara relação inversa
entre inflação e a sua independência legal".
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Por aí se percebe a confusão na definição da causalidade.
A correlação correta não é entre BC independente e
inflação em baixa, mas entre BC independente e países industrializados
com moedas conversíveis.
Nesses países, a própria estabilidade reduz os riscos
de estragos na atuação do BC. A variação das taxas básicas vai de zero a
4 pontos ano. Os efeitos sobre o câmbio são mínimos. Os canais de
transmissão dos juros, desobstruídos. É uma situação totalmente diversa
de países como o Brasil, no qual a independência funcional do BC
permitiu - no início do plano Real - que mantivesse a taxa de juros em
inacreditáveis 45% ao ano sem ser contido.
Mesmo assim, como lembrou o Nobel Joseph Stiglitz, na
crise, “países com bancos centrais menos independentes, como Brasil,
China e Índia, se saíram muito, mas muito melhor do que países com BCs
mais independentes, como a Europa e nos Estados Unidos”.
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Isso se deve a uma característica necessária dos BCs,
jamais levantada nas discussões brasileiras: a independência em relação
aos mercados.
Segundo um dos maiores estudiosos do tema, o
economista norte-americano Alan Blinder, "o acompanhamento das reações
dos mercados deve ser realizado sem representar uma submissão da
autoridade monetária aos mercados até porque, em muitos momentos, a
política do banco central precisa enfrentar e até confrontar o mercado".
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Hoje em dia, o BC está capturado pelo mercado. Não há a menor preocupação com impactos fiscais e cambiais da política monetária.
Estaria em condições de assumir as prerrogativas de um BC independente. Ser independente significaria:
Poder para definir metas e objetivos e liberdade operacional para definir como atuará para atingi-las.
Irreversibilidade das decisões. No sistema americano,
diz o trabalho, nem o presidente nem a Suprema Corte podem anular
decisões do Federal Open Market Commitee (FOMC).
Liberdade para definir taxas de câmbio.
Garantia total para a diretoria do BC de que, em
conseqüência de suas ações, dentro dos preceitos legais, seus
componentes não serão exonerados ad nutum pelo presidente do país.Texto do Blog do Luís Nassif.
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