As quedas de Dilma Rousseff e Aécio Neves têm várias causas, não só o alto ponto de partida de Marina Silva. Ainda que com pesos diferentes, um dos principais fatores daquelas quedas é o mesmo em uma em outra: as duas campanhas parecem um desperdício de possibilidades que se volta contra cada um dos candidatos.
O caso de Dilma, nesse sentido, tem maiores consequências negativas para a candidatura. Por maior que seja o esforço de negá-lo, o governo tem muito o que mostrar em resultados importantes do seu trabalho. Grande parte pouco conhecida e mal conhecida, ou desconhecida mesmo. Apesar dos gastos em publicidade. Comunicar-se com a opinião pública, necessidade essencial de qualquer governo em nosso tempo, revelou-se a mais ampla incapacidade do governo Dilma. E aparentemente nem ao menos percebida pelos interessados ao longo dos seus três anos e tanto.
Em termos pessoais, é notório que o problema começa na própria Dilma. Mas para isso, que não é incomum, existem os ministros bem-falantes, os assessores, os marqueteiros, o treinamento. Se, no economismo obsessivo dos meios de comunicação brasileiros, ao menos Guido Mantega fosse melhor do que Dilma, mesmo que não chegasse à conversa de camelô de Antonio Palocci, o governo conseguiria neutralizar a fabricação do pessimismo. Feita contra Dilma e o governo, mas, como bala perdida, com prejuízos sobretudo para o país.
O horário eleitoral seria a segunda oportunidade da neutralização. Mas a grande vantagem de Dilma, em tempo disponível, desperdiça-se em uma confusão de cenas e intervenções inócuas, longa e cansativa falta de objetividade entremeada, não mais do que isso, de inserções da candidata. A anticomunicação. Ao custo de milhões. Se, mesmo sem grandes bossas, os programas de rádio e TV se limitassem a expor, com alguma inteligência e clareza, o que Dilma acha que tem a mostrar do seu governo, e que valeria a pena prosseguir, o objetivo didaticamente eleitoral seria muito mais alcançável. Mas a campanha parece contra a candidata: não atrai, desinteressa.
Aécio Neves dedicou sua campanha ao desnecessário: "desconstruir" Dilma. Isto a imprensa, a TV e o rádio já faziam por ele, desde muito antes de iniciar-se a campanha, e com muito mais eficácia. Aécio só falava contra Dilma, contra a Petrobras, contra o governo. Foi mandado para o subsolo com tanta facilidade porque não houve um motivo seu para preservar fidelidades. O grosso dos apoios que tinha, é o que se vê, eram recusas aos outros concorrentes.
Não há mais dúvida de que o programa governamental de Aécio, de fato, não é coisa que se diga ao eleitorado. É para conversa de salão, reuniões na Fiesp e na federação dos bancos. Nada pensado de interessante para dizer ao eleitorado, Aécio tornou-se o vazio eleitoral, feito pela própria campanha.
Com Marina Silva foi mais fácil: para estar em cima, não precisou fazer campanha, não precisou dizer o que pensa. Mas como, para seguir no alto, precisa fazer campanha, começou a dizer o que não pensa.
Reprodução da coluna de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo.
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