Análise: Sob críticas, mídia britânica se posiciona contra independência
NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
No último dia 6, horas antes de sair a edição do "Times" de Londres, o magnata Rupert Murdoch tuitou que seu jornal estava prestes a "chocar a Grã-Bretanha" com uma nova pesquisa sobre o plebiscito escocês.
Pela primeira vez a independência aparecia à frente, o que de fato acordou os conservadores no governo britânico, os trabalhistas na oposição e todo o establishment político e financeiro de Londres –e mundo afora.
Acordou também seu jornalismo, até ali acreditando, como todos, que a Escócia jamais votaria "sim". Desde então, de "Telegraph" e "Financial Times" à BBC, o risco de secessão tomou as manchetes britânicas.
Amontoaram-se reportagens, com declarações de banqueiros centrais a supermercados e teles, sobre os efeitos econômicos desastrosos para os escoceses caso tenham o desatino de votar pela independência.
A BBC noticiou um vazamento do Royal Bank of Scotland, prevendo mudar a sua sede para Londres em caso de "sim".
E ontem noticiou um novo vazamento, sobre o sistema de saúde escocês, que sofreria cortes.
Acusada pela campanha pró-independência –e por Murdoch– de cobertura enviesada pelo "não", a BBC enfrentou protestos nas cidades escocesas, assim como a ITV, a segunda rede britânica.
E a televisão não está sozinha, sob crítica. Os jornais londrinos e até os escoceses, que em sua maioria pertencem aos mesmos grupos ingleses, passaram a publicar editoriais seguidos contra a independência.
"FT", "Guardian", "Daily Mail", "Daily Mirror": a imprensa de Londres desta vez foi unânime, sem uma voz sequer pela independência.
E, ao norte, até o "Scotsman", de Edimburgo, a capital, soltou editorial dizendo: "Melhor juntos".
Murdoch, que é neto de escocês, baixou ele próprio no país, tentando passar incógnito em pubs e ruas. Ameaçava apoiar o "sim", mas recuou, e seu "Times" acaba de dar, ele também, um editorial pelo "não".
O "Scottish Sun", tabloide de Murdoch e jornal de maior circulação na Escócia, ainda pode se pronunciar, mas, ao que parece, a independência terá em sua defesa a voz solitária do pequeno "Sunday Herald", de Glasgow.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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