Modelo muda de sexo e começa nova fase
Por MATTHEW SCHNEIER
Andreja Pejic tem 1,85 metro e outros requisitos para ser modelo, incluindo cabelos louros abaixo dos ombros, lábios carnudos, cintura fina e duas pintas charmosas acima do lábio superior. Vale lembrar que Cindy Crawford tem apenas uma pinta.
A grande diferença entre Pejic e outras jovens que brilham nas semanas de moda mundo afora é que ela já teve uma carreira bem-sucedida como o modelo masculino Andrej Pejic.
Agora, após meses afastada das passarelas, ela está ansiosa para saber se o mundo da moda a aceitará como mulher.
Há quatro anos, Pejic chegou à Europa e se tornou a coqueluche de editores e estilistas, sobretudo aqueles com um viés rebelde.
Seu primeiro trabalho profissional lhe rendeu a capa da revista de moda australiana "Oyster" e, em sua primeira temporada em Paris ela entrou no elenco de modelos de estilistas de moda masculina como Paul Smith, John Galliano, Raf Simons e Jean-Paul Gaultier, o qual se tornou um grande apoiador. "Eu ficava muito bem de terno", comentou Pejic.
A androginia sempre foi um elemento forte no interesse que ela desperta. Quando era mais jovem, hesitava entre assumir sua feminilidade e escondê-la.
Na infância, ficou em um campo de refugiados na Sérvia durante a guerra da Bósnia, e depois se radicou na Austrália.
Mas o que Pejic não revelou a seus agentes é que sua androginia foi parcialmente causada pelo Androcur, um hormônio sintético que ela tomava para frear seu desenvolvimento.
Ela já havia iniciado em segredo um tratamento para sua disforia de gênero e lançou-se como modelo para conseguir dinheiro para a transição sexual.
No entanto, ela temia que essa carreira, adotada inicialmente para viabilizar sua mudança de sexo, a afastasse disso. "Eu telefonava para minha mãe", conta ela, "e dizia: 'Quem vai me aceitar como mulher se todo mundo sabe que sou homem?'" Nas temporadas seguintes, porém, Gaultier não só a convidou para seu desfile de moda masculina, mas também para encerrar seu desfile feminino no papel de destaque da noiva.
Daí em diante, Pejic não parou de trabalhar posando para ensaios de moda masculina e feminina em revistas.
Pejic era requisitada por revistas que queriam fotografá-la com roupas femininas e também com roupas masculinas. A imprensa se desdobrava para explicar sua beleza intrigante.
A "New York Magazine" a estampou na capa de sua edição sobre moda outono em 2011, descrevendo-a como "o rapaz mais bonito do mundo".
A vida andrógina pode até ter sido satisfatória por algum tempo. Porém, cansada de adiar seu sonho, ela resolveu fazer a cirurgia de mudança de sexo.
"Eu não tinha certeza das consequências disso para minha carreira", comentou ela. "Alguns agentes me diziam para desistir disso, pois eu poderia perder tudo o que havia conquistado."
Mas, no final do ano passado, ela encontrou um cirurgião.
Hoje em dia, modelos transgêneros estão se tornando mais comuns e assumidos. A modelo brasileira Lea T, que é a musa de Riccardo Tisci, da Givenchy, estrelou campanhas publicitárias e desfiles da grife.
Em janeiro, a Barneys New York lançou uma campanha publicitária com modelos transgêneros que fez muito sucesso. Pejic, porém, é a única que reconhecidamente fez a mudança de sexo.
"No início, eu me preocupava com o fato de haver tantas fotos minhas por aí como rapaz. Agora sei que meu passado não me torna menos feminina e posso me orgulhar disso. Não preciso enterrar esse passado."
Mas será que empresas estabelecidas irão investir em uma mulher transgênero para representar suas marcas? "Certamente existe a possibilidade de uma rejeição", disse James Scully, que seleciona modelos para os desfiles de Carolina Herrera, Derek Lam, Tom Ford e Stella McCartney.
Pejic está ansiosa para descobrir. "Minha estratégia agora mudou", disse ela.
"Quero partir para algo mais clássico. Mostrar ao mundo que posso ser acessível, em vez de ser vista como um ET conforme eu me senti durante grande parte da minha carreira. Eu tinha sucesso e era adorada, mas também era considerada um ser estranho. Quero provar que tenho capacidades como qualquer outra modelo e ser tratada e respeitada da mesma forma."
Reportagem do The New York Times reproduzida na Folha de São Paulo.
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