Norueguês suaviza o amargor de história já filmada por Louis Malle
SÉRGIO ALPENDRECOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Já nas primeiras cenas de "Oslo, 31 de Agosto", vemos coisas que normalmente pensamos ao ouvir sobre a Noruega: neve (ainda que só no começo), frieza nas relações entre as pessoas, a banda de pop rock A-Ha e uma melancolia profunda e bem nórdica.
O filme de Joachim Trier conta a história de Anders, viciado em drogas que tira um dia fora do tratamento de desintoxicação para uma entrevista de emprego e para reencontrar velhos amigos.
Quem conhece o romance que serviu de base ao filme, "Le Feu Follet", de Pierre Drieu La Rochelle, sabe que a história é triste.
Mas esta nova versão não chega perto do amargor da mais famosa adaptação da obra: "Trinta Anos Esta Noite" (1963), dirigida pelo francês Louis Malle.
Diferentemente de Malle, Trier mergulha o personagem num clima primaveril que contrasta com o desencanto interior responsável pelo vício. Anders sai da clínica e logo pensa em comprar heroína. Para ele, essa é uma fuga possível em meio ao mais profundo nada.
Mas há uma outra fuga. O melhor momento, por exemplo, se dá quando o protagonista senta à mesa de um café, observa o mundo ao seu redor e constrói mentalmente pequenas histórias sobre as pessoas que vê passar pela calçada.
É uma sequência construída com extrema delicadeza, que nos faz atentar para as coisas simples da vida, pequenas cenas do cotidiano que permanecem escondidas, restritas à intimidade alheia ou à mente de um demiurgo.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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