sexta-feira, 20 de junho de 2014

Blindado, Felipe 6º é coroado e defende 'unidade' da Espanha

Blindado, Felipe 6º é coroado e defende 'unidade' da Espanha
Novo rei pede 'renovação' da monarquia, cuja popularidade cai; atos pró-república são vetados
Filho de Juan Carlos diz que terá 'conduta íntegra', em referência ao caso de corrupção que desgastou a família
LEANDRO COLONENVIADO ESPECIAL A MADRI

O rei Felipe 6º, 46, foi coroado nesta quinta-feira (19) com um discurso de "renovação" e pela "unidade" do país, em uma celebração na qual a família real foi blindada contra protestos.
Com a proibição judicial de uso de símbolos e manifestações pró-república, o clima em Madri foi festivo e favorável ao novo rei.
Ele "jogou em casa", sem torcida adversária, apesar do baixo público em grande parte das avenidas por onde ele e a rainha Letizia passearam num luxuoso Rolls Royce, sob escolta da guarda real.
O tão esperado discurso no Congresso ficou dentro das expectativas --sóbrio, em tom de defesa da "unidade", falando em mudança: "Encarno uma monarquia renovada para novos tempos".
Estabeleceu ainda como "prioridade" a recuperação da economia do país, cuja fragilidade desgastou a monarquia. "Temos também a obrigação de transmitir uma mensagem de esperança, especialmente aos mais jovens, para a solução de seus problemas e, em particular, a obtenção de emprego."
O pai de Felipe 6º, o rei Juan Carlos, 76, que abdicou do trono, foi discreto. Na companhia da rainha Sofia, surgiu ao lado do filho por alguns minutos na varanda do Palácio Real para saudar as centenas de pessoas que, sob um calor de 30°C, esperavam um aceno. Apesar da abdicação, Juan Carlos continuará com o título de rei.
Na região do Palácio Real, bem como no percurso de carro feito pelo casal, só era permitido se manifestar a favor do rei, com gritos de "viva o rei", "viva a monarquia", "viva a Espanha", entre outros.
Cerca de 7.000 agentes foram escalados para os festejos. Policiais usaram detectores de metais e revistaram todos que queriam circular na rota por onde o rei passaria.
Ao menos oito pessoas foram detidas durante o dia por se manifestarem contra a monarquia, mas nada que tenha ameaçado a celebração real (leia texto abaixo).
Cristina, filha de Juan Carlos e irmã do rei Felipe 6º, foi a grande ausente. Ela e seu marido, Iñaki Urdangarin, são suspeitos de crime fiscal e lavagem de dinheiro por meio de uma ONG, episódio que desgastou a família real recentemente e contribuiu para Juan Carlos sair de cena.
Em seu discurso, o novo rei afirmou que vai prezar pela "dignidade da instituição, preservar seu prestígio e observar uma conduta íntegra, honesta e transparente".
Um dos seu principais desafios será enfrentar o referendo, não reconhecido pelo governo espanhol, de independência da Catalunha, marcado para novembro.
"Quero reafirmar, como rei, minha esperança na unidade da Espanha", disse Felipe 6º. "Nesta Espanha unida e diversa, baseada na igualdade dos espanhóis, cabemos todos. Cabem todos os sentimentos e sensibilidades", acrescentou.
O novo casal real recebeu 2.000 convidados para um coquetel no palácio. O discurso de Felipe 6º foi interpretado em Madri como um sinal de que ele está disposto a recuperar a imagem arranhada da monarquia espanhola, que a cada ano vem perdendo popularidade, sobretudo entre os mais jovens.
Desde a abdicação de Juan Carlos, cresceram os protestos a favor de um referendo pró-república. O deputado Gaspar Llamazares, do partido da Esquerda Plural, por exemplo, boicotou a sessão desta quinta-feira (19) que proclamou o novo rei.


Reprodução da Folha de São Paulo

Destaque do blogueiro para a manifestação democrática da justiça espanhola.

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