quinta-feira, 5 de junho de 2014

Agronegócio defende nova lei de imigração

Agronegócio defende nova lei de imigração

Proprietários temem escassez de mão de obra para lavouras

Por JENNIFER MEDINA

HURON, Califórnia - Quando Chuck Herrin, que dirige uma grande empreiteira de mão de obra agrícola, olha para as centenas de trabalhadores que contrata todos os anos para cuidar de plantações de frutas e legumes, ele ferve de frustração. Não é que tenha problemas com os trabalhadores. Na verdade, como muitos outros aqui, Herrin está cada vez mais cansado das leis de imigração dos Estados Unidos, que, a seu ver, o impedem de contar com uma mão de obra constante e confiável.
Mesmo em meio a uma seca recorde que ameaça devastar as colheitas, os empresários rurais daqui falam sobre a imigração como uma de suas principais preocupações. "Precisamos dessas pessoas para colocar nossos alimentos no mercado", disse Herrin, acrescentando que o país deveria considerar maneiras de importar trabalhadores, não mantê-los fora do país. Grupos do setor estão entre as forças mais importantes que pressionam o Congresso dos EUA por uma reforma da imigração.
Um relatório divulgado pela Parceria por uma Nova Economia Americana e pela Coalizão Agrícola pela Reforma da Imigração, dois grupos orientados para empresas, disse que os produtos agrícolas estrangeiros consumidos nos EUA aumentaram quase 80% desde o final dos anos 1990. O relatório afirma que a escassez de mão de obra torna impossível para os agricultores americanos competir com importadores estrangeiros. O volume de hortifrútis consumidos nos EUA aumentou nos últimos anos, mas a produção doméstica não acompanhou esse ritmo. O relatório atribui à falta de mão de obra o prejuízo anual de US$ 1,4 bilhão em receitas agrícolas.
A Califórnia abriga cerca de 2,5 milhões de imigrantes ilegais, mais do que qualquer outro Estado. Talvez nenhum outro lugar capte as contradições e complexidades da política de imigração melhor que o Vale Central da Califórnia, onde quase todos os trabalhadores são imigrantes e metade deles vive ali ilegalmente.
Agricultores e proprietários de empresas relacionadas disseram que mesmo o atual sistema de usar tacitamente mão de obra ilegal não é suficiente. Uma força de trabalho que chegou nos anos 1990 está envelhecendo e não quer mais trabalho pesado, os americanos não querem os empregos e a segurança reforçada na fronteira está desencorajando a vinda de novos imigrantes, dizem eles.
Herrin diz que muitas vezes só consegue fornecer equipes com a metade do tamanho que os agricultores solicitam. Como outros entrevistados, ele disse que certamente tem imigrantes ilegais em sua força de trabalho. "Não temos alternativa", disse. "Não estamos atraindo pessoas que deixam as cidades para vir trabalhar nas fazendas." Os potenciais trabalhadores, segundo ele, estão "com medo de vir, com medo da patrulha de fronteiras, das deportações e dos narcotraficantes".
A região conta com recém-chegados para trabalhar nas colheitas desde a época das tempestades de areia nos anos 1930. Durante mais de duas décadas após a Segunda Guerra Mundial, os plantadores daqui dependeram de "braceros", mexicanos enviados temporariamente para os EUA para trabalhar na agricultura. Hoje, muitos trabalhadores são indígenas do sul do México que falam mixtec e pouco entendem inglês ou espanhol.
Nos últimos anos, os proprietários de terras tornaram-se cada vez mais temerosos da escassez de mão de obra. Em 2013, a falta de trabalhadores levou os salários agrícolas na região a um aumento de aproximadamente US$ 1 por hora, segundo pesquisadores da U.C. Davis. Hoje os proprietários estão pressionando para facilitar que os possíveis imigrantes obtenham vistos agrícolas, que segundo eles criariam uma oferta de mão de obra mais confiável.
Os pais de Joel del Bosque, fazendeiro da região de Fresno, vieram para a Califórnia quando crianças durante a revolução mexicana, no século passado. Há uma geração, disse ele, os plantadores muitas vezes fingiam não saber que as pessoas que trabalhavam para eles não tinham autorização para viver nos EUA. Hoje há um reconhecimento quase universal de que o setor conta com imigrantes que cruzam a fronteira ilegalmente."Os empregadores estão mais frustrados que os imigrantes", disse Del Bosque.


Reportagem do The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo.

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