EUA financiaram rede social afegã Paywast
Por RON NIXON
WASHINGTON - Os afegãos há muito tempo resistem a qualquer autoridade central, em um país dividido por critérios tribais, culturais, religiosos e linguísticos. Suas montanhas e vales bloqueiam os avanços comunicacionais que unificaram outras sociedades. Mas uma rede social inicialmente financiada pelos EUA está superando essas barreiras. Ela conecta milhões de afegãos equipados com celulares e outros aparelhos portáteis, permitindo uma troca de ideias que nunca havia sido possível fora de Cabul, a capital.
Em outros lugares -especialmente em Cuba-, programas semelhantes, também financiados pelos EUA, fracassaram, mas o Afeganistão é considerado uma das grandes histórias de sucesso do esforço de Washington para combater a ideologia violenta dos extremistas. A rede ofereceu aos afegãos um inédito acesso à informação, reforçando as iniciativas educacionais e estimulando o debate político, segundo funcionários do governo Obama.
Chamada Paywast, ou "conectar" em dari, língua de origem persa falada por metade da população, a rede tem 1,6 milhão de usuários e continua em operação, apesar de os EUA terem encerrado em 2011 o seu apoio ao projeto.
A empresa afegã que administra a rede, também chamada Paywast, passou a cobrar uma pequena taxa de uso quando a verba americana acabou.
Os projetos foram incentivados pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton, que enxergava as mídias sociais como uma ferramenta importante para a diplomacia, depois de observar como o Facebook e o YouTube foram usados para organizar protestos no Egito e na Tunísia nas revoltas de 2010.
Mas a Associated Press informou que, em Cuba, o programa consistia em uma iniciativa secreta, concebida para estimular a dissidência na esperança de provocar uma "primavera cubana". Funcionários do governo negaram que a atividade fosse secreta e disseram que a rede, chamada Zunzuneo, foi criada para oferecer aos cubanos uma maneira de compartilharem ideias e informações.
O Paywast não admite abertamente que foi financiado pelos EUA, mas o fato nunca foi escondido do governo afegão ou de seus cidadãos, segundo a subsecretária-assistente de Estado Eileen O'Connor. Jes Kaliebe Petersen, cofundador da empresa que criou a rede, disse que, apesar do apoio americano, o programa nunca teve objetivo político.
"Mantemos a rede social de forma autônoma. Não há relação entre o programa cubano e nossas atividades."
Em Cabul, vários jovens disseram que pararam de usar o Paywast depois que a empresa começou a cobrar pelo serviço.
Waheed Arash, 26, contou que usava o Paywast para mandar mensagens a mulheres e que ele criou com amigos um grupo para compartilhar piadas, notícias e atualizações sobre suas vidas pessoais. "Mas quase todo mundo parou de usá-lo ao ser surpreendido com o fato de a empresa nos cobrar muito dinheiro."
Reportagem do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário