Tirado da Cabala, "Tikun Olam" em hebraico significa "consertar o mundo". Esse foi o nome escolhido para a principal produtora israelense de maconha de uso medicinal, situada na Alta Galileia, norte do país. "Não somos uma empresa com fins puramente comerciais", afirma Ma'ayan Weisberg, porta-voz dessa fazenda de cannabis homologada pelo Ministério da Saúde. "A ideia original, aliás, era filantrópica."
Quando tudo começou, em 2007, a família Cohen recebeu a autorização para cultivar em casa cerca de 50 plantas de maconha para distribui-la gratuitamente a pacientes que sofrem de patologias dolorosas. Desde então, a iniciativa voluntária se transformou em nada menos que uma empresa muito lucrativa. A Tikun Olam, que emprega cerca de 50 pessoas, diz atender a cada mês entre 3.500 e 4.000 pacientes. Ou seja, mais de um quarto desse mercado que é dividido por oito produtores autorizados.
O número de beneficiários disparou
Em Israel, a maconha continua sendo uma droga ilegal e perigosa aos olhos da lei. Mas seu uso medicinal, regulamentado de forma rígida pelo Estado, aumentou de maneira exponencial nos últimos anos. Em 2010, a venda direta foi autorizada entre produtores certificados e pacientes que possuem uma autorização especial.
O número de beneficiários disparou, passando de algumas centenas para mais de 14 mil, um número que os especialistas esperam ver triplicar em até quatro anos.
A ministra da Saúde, Yael German, explicou em 2013 que cerca de 400 quilos de maconha terapêutica são distribuídos a cada mês em Israel. Mais do que em qualquer lugar da Europa, inclusive na Holanda.
Exportar técnicas
Atualmente, os pacientes israelenses podem comprar a maconha em um centro específico nos hospitais. Mas essa forma de negócio um tanto peculiar é só o início de uma grande reforma de seu modo de distribuição. "Tudo está andando tão rápido que precisamos adaptar o sistema", explica o médico Michael Dor, conselheiro da recém-inaugurada Agência Oficial de Cannabis Medicinal. "No futuro, essa substância poderá ser vendida como um medicamento, na farmácia."
O governo quer lançar dentro de dois meses uma licitação para abrir o mercado a outros produtores. A colheita, a dosagem e o embalamento do produto serão confiados à empresa privada Sarel, principal fornecedora israelense de material médico. A venda de cannabis será feita em uma rede de farmácias autorizadas. Essa reorganização deve ser efetivada no final de 2014.
Essa reforma é mal vista pelos cultivadores de cannabis homologados. Eles alertam para uma centralização que pode acabar entravando a expansão da maconha terapêutica.
Já a Agência da Cannabis afirma que essa nova abordagem permitirá um grande aumento no número de prescrições e, portanto, do mercado. "A próxima etapa é decidir se começaremos a exportar, pois muitos países estão pedindo para ter acesso às nossas técnicas", conclui o Dr. Dor.
Reportagem de Marie de Vergès, para o Le Monde, reproduzido no UOL.
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