Não é ficção científica. A Amazon está "desenvolvendo" um software que, ao ser apontado para qualquer produto --numa livraria, farmácia, confecção, loja de brinquedos e o que você quiser--, "reconhecerá" esse produto, e ela (sempre ela) o comprará para você. Trata-se do Dash Amazon, a próxima maravilha a ser acoplada ao seu smartphone, e com a qual você poderá realizar o seu ideal de comprar tudo sem sair de casa.
Resta saber o que acontecerá a essas lojas e a todas as outras. Por algum tempo, elas ainda resistirão, reduzidas à condição de imensos showrooms de uma gigamegaempresa --a qual começou vendendo discos e livros pela internet e, hoje, embora muitos não saibam, vende de grampos de cabelo a submarinos. Por enquanto, seu ataque ao comércio organizado acabou apenas com as lojas de discos no mundo inteiro e já começou a fechar as livrarias nos EUA. Nada que se compare ao que acontecerá quando o Dash Amazon for uma realidade.
Cada item comprado com um clique representará duas pessoas a menos no balcão --a que compra e a que vende-- e, em pouco tempo, uma loja fechada na rua ou no shopping. Imagine o mundo sem o comércio varejista, que emprega milhões de pessoas, paga bilhões em impostos e dá vida às cidades --aliás, foi ao redor desse comércio, na forma de um mercado ou feira, que as cidades nasceram e prosperaram.
Sem ele, elas se tornarão cidades--fantasmas --"cemitérios urbanos, povoados por gangues e milícias", segundo meu amigo Rui Campos, da Livraria da Travessa, e quem me alertou para o perigo. Curiosamente, ninguém parece preocupado. A tecnologia é tão sedutora e apaixonante que nos impede de enxergar os seus "desprodutos", como os chamava Décio Pignatari.
A Amazon conta com nosso egoísmo e comodismo. Faz muito bem.
Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo.
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