segunda-feira, 9 de junho de 2014

Igrejas abandonadas na Europa podem ter uma chance de "vida após a morte"


Quando uma igreja fecha suas portas, é um dia triste para os fieis. Quando ela é arrolada para demolição, é um dia triste para uma comunidade mais ampla, como Lilian Grootswagers percebeu em 2005 quando ela e seus vizinhos do pequeno vilarejo holandês de Kaatsheuvel ficaram sabendo que a igreja católica romana de São José seria derrubada e substituída por um prédio de apartamentos de quatro andares.

Lançando-se à ação, Grootswagers fez um abaixo-assinado, coletando 3.250 assinaturas, quase um quarto da população do vilarejo, e buscou ajuda em nível nacional. Mais tarde revelou-se que a St. Josefkerk, construída em 1933 como peça central de um conjunto arquitetônico incomum, tinha os requisitos necessários para ser registrada como patrimônio histórico.

Hoje, nove anos depois de ter realizado sua última missa, a igreja continua em pé, vazia, porém esperando sua próxima encarnação. O resgate foi uma vitória para uma iniciativa que está crescendo na Europa para preservar as construções religiosas diante da rápida secularização e diminuição dos recursos públicos.

A organização Future for Religious Heritage (Futuro para o Legado Religioso), que começou como um movimento popular em 2009, transformou-se em 2011 em uma rede de grupos de mais de 30 países, dedicados a encontrar formas de manter abertas as igrejas, sinagogas e outras construções religiosas, se não para os serviços religiosos, para outros usos.

Mas, fazer a transição de lugares de culto para outros propósitos é complicado, o que necessariamente envolve não só o apoio da comunidade, como também habilidades administrativas. "Só é possível administrar um prédio se ele tem uma renda", diz Leena Seim, diretora-executiva da Future for Religious Heritage.

Talvez em nenhum outro lugar a situação das igrejas seja mais dura do que na Holanda, onde cerca de mil igrejas católicas --cerca de dois terços do total do país-- deverão se fechar até 2025, uma reorganização forçada por uma queda contínua na frequência de fieis, no número de batismos e casamentos. Esses foram os números fornecidos pelo cardeal Willem Eijk, arcebispo de Utrecht, em um relatório entregue ao papa Francisco em dezembro passado.

Essa tendência está formando um "imenso tsunami", disse Grootswagers, secretário do conselho da Future for Religious Heritage. "A cada dia, há uma matéria nos jornais sobre o fechamento de mais uma igreja. Antes, isso era mantido em silêncio. Agora eles estão dizendo para todos."

Da Itália à Estônia, comunidades estão se debatendo para encontrar formas de salvar prédios outrora amados da destruição, negligência e, em alguns casos, da devastação do turismo em massa.
A situação dos prédios religiosos varia muito. Na França, as igrejas construídas antes de 1905 pertencem, em sua maioria, aos municípios. Na Inglaterra, a maioria pertence à Igreja da Inglaterra.

Em cada país, em cada caso, há implicações intrincadas no que diz respeito aos impostos, questões legais e questões sobre o uso apropriado de um local que já foi sacro. Igrejas dessacralizadas foram transformadas em centros de saúde, bibliotecas, museus, restaurantes e até mesmo ringues de patinação. Esses resultados podem ser controversos.

A chave é um debate aberto, diz Seim, acrescentando: "o mais importante é envolver os interessados desde os primeiros estágios". Mas, não é fácil para as comunidades discutir esses assuntos por conta própria, e é por isso que a Future for Religious Heritage coleta e compartilha ideias, experiência e conhecimento por toda sua rede.

Uma pesquisa recente apoia a ideia de que os prédios religiosos são amplamente estimados como parte da herança cultural da Europa.
De acordo com a pesquisa conduzida pela Sociovision entre 6.000 cidadãos de oito países europeus, quatro em cada cinco consideram os prédios religiosos em seu meio como "cruciais" para o futuro de suas comunidades, e três em cada quatro são a favor de abri-los para atividades não-religiosas se isso os mantiver abertos.

Armados com essas descobertas, os preservacionistas estão demandando ajuda da União Europeia.

"Temos de convencer as pessoas que as igrejas não são apenas para os fiéis", disse Olivier de Rohan-Chabot, presidente da Future for Religious Heritage, em uma entrevista em Paris.
"De repente, percebemos que este é um problema que diz respeito à nossa civilização."  

Reportagem de Celestine Bohlen, para o The New York Times, reproduzido no UOL. Tradutor: Eloise De Vylder

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