KENNETH MAXWELL
Mauá
Este mês marca o bicentenário do nascimento de Irineu Evangelista de Sousa, em 28 de dezembro de 1813, em Arroio Grande, na fronteira sul do território que se tornaria o Rio Grande do Sul. Ele morreu em 1889, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, como visconde de Mauá, pouco antes da queda do Império brasileiro.
Mauá foi industrial, banqueiro e empresário. Homem de origens modestas, perdeu o pai, morto por ladrões de gado, aos cinco anos de idade. O tio, capitão de navio, o levou ao Rio de janeiro quando ele tinha nove anos de idade. Aos 15, Irineu começou a trabalhar para Richard Carruthers, um comerciante escocês radicado no Rio de Janeiro que se tornou seu mentor e seu amigo pelo resto da vida. Carruthers ensinou inglês e contabilidade a Mauá, e o iniciou na ordem maçônica. Depois que Carruthers retornou à Escócia, em 1829, Irineu assumiu o comando de seus negócios.
Ele se opunha ao comércio negreiro e à escravatura. Foi um pioneiro da metalurgia, da iluminação a gás, dos estaleiros, dos motores a vapor, dos navios a vapor para o rio Amazonas e das ferrovias.
No auge de sua carreira, em 1860, controlava 17 empresas no Brasil, Uruguai, Argentina, Reino Unido, França e Estados Unidos. Em 1867, o valor de suas propriedades foi estimado em 155 milhões de libras. A renda do império brasileiro naquela época era de 97 milhões de libras.
O imperador dom Pedro 2º compareceu à inauguração do trecho inicial de sua ferrovia até Petrópolis, em 1854, no dia em que Mauá recebeu o título de barão de Mauá. O emblema heráldico do novo nobre exibia um motor a vapor no topo de seu brasão, com um navio a vapor abaixo. O lema que ele adotou foi "Labor Improbus Omnia Vincit": o trabalho árduo tudo vence.
O Barão de Mauá conseguia levantar capital em Londres em seu nome pessoal. Em 1860, obteve o apoio do barão Lionel de Rothschild, que adquiriu mil ações de sua "São Paulo Railway Company". Mas Carruthers aconselhou cautela. Em tempos de prosperidade, "os bancos são só sorrisos e empréstimos fáceis, mas não conte com o dinheiro deles nos momentos difíceis".
Mauá lutou contra a falência, na velhice. Mas pagou suas dívidas. Em 1889, seu corpo foi transportado de Petrópolis ao Rio pela ferrovia que ele construiu sobre a Serra do Mar. Sua vida é uma lição sobre o que um homem vindo de baixo pode realizar no Brasil. E sobre os riscos que ele corre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário