sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Editor do "Guardian" é obrigado a defender patriotismo no caso Snowden

Alan Rusbridger, o editor do "The Guardian", teve de provar seu patriotismo para defender a publicação das revelações de Edward Snowden. Interrogado durante 80 minutos pela comissão parlamentar britânica para assuntos internos, na terça-feira (3), ele refutou todas as acusações de que teria colocado em risco a segurança nacional do Reino Unido ao expor o amplo sistema de espionagem eletrônica criado pelos serviços de segurança americanos e britânicos.
Keith Vaz, o deputado do partido trabalhista que preside a comissão, o pegou de surpresa ao lançar, educadamente, uma pergunta insidiosa: "O senhor ama seu país?" Estupefato, Rusbridger ficou em silêncio por alguns segundos, antes de responder, com uma risada discreta: "Estou meio surpreso por você me fazer tal pergunta, mas, sim, nós somos patriotas. E uma das coisas que fazem com quem nós sejamos patriotas é a democracia e a liberdade de nossa imprensa".
Alan Rusbridger compareceu perante os deputados para responder às acusações dos três diretores dos serviços de inteligência britânicos. No mês passado, diante de uma outra comissão, muito mais conciliadora, eles afirmaram que os terroristas podiam agora eludir sua vigilância mais facilmente. Eles dizem ter interceptado discussões de grupos que querem mudar seus métodos de comunicação por causa dessas revelações.
Rusbridger nega, dizendo que as acusações são "muito vagas". "Ninguém nunca me disse: você provocou esses danos específicos." Ele cita quatro fontes próximas dos serviços de inteligência, tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido, que afirmam que a publicação dessas informações não colocou em risco a segurança nacional: um membro da comissão para serviços secretos do Senado americano, um oficial da Casa Branca, um oficial de alto escalão britânico e Norman Baker, secretário de Estado britânico para assuntos internos.
O redator-chefe do "Guardian" afirma que ele procedeu de maneira extremamente prudente. Somente 1% dos 58 mil documentos de Snowden foram publicados. As autoridades sempre foram contatadas para poderem dar sua versão dos fatos. E, o mais importante, nenhum nome de agente secreto jamais foi publicado, nem nenhum elemento que pudesse identificá-los. Nenhuma vida foi colocada em risco. As revelações se limitam a explicar os métodos da ciberespionagem e sua extensão.
Rusbridger lembra também que, desde o início, o sigilo era muito mal mantido pelos Estados Unidos. Snowden era somente um consultor da NSA, a Agência Nacional de Segurança americana. No total, 850 mil pessoas tinham acesso a esses documentos, da mesma forma que ele.
Não é a primeira vez que o "Guardian" é obrigado se defender. Desde a publicação do furo inicial, em junho, as autoridades britânicas fizeram de tudo para conter a divulgação de informações. Durante o verão, um dos oficiais do mais alto escalão do país foi até o subsolo da sede do jornal britânico para supervisionar a destruição de um disco rígido ("com uma espécie de liquidificador gigante"), conta Rusbridger. Em vão, já que o "Guardian" tinha uma cópia.
A prova de que existe uma pressão é que essa cópia está sendo guardada na sede do "New York Times", nos Estados Unidos, um país onde a liberdade de expressão é protegida pela Constituição. Em seguida a polícia prendeu no aeroporto de Heathrow David Miranda, o namorado de Glenn Greenwald, jornalista que revelou o caso. Este transportava documentos para o jornal britânico.
E, agora, o ataque dos diretores dos serviços secretos e a convocação de Rusbridger ao Parlamento. "O 'Guardian' não se deixará intimidar", responde seu editor.
A próxima etapa poderá ser judicial. Vários deputados dizem acreditar que transportar os arquivos de Snowden para fora do Reino Unido constitui crime. Os nomes dos agentes constam nesses documentos, e transmiti-los para fora das fronteiras seria contra a lei.
"Comunicar informações sobre a identidade dos funcionários dos serviços secretos para fora de nosso território infringe o parágrafo 58A", afirmou o deputado conservador Mark Reckless. Mas Rusbridger admite que o "Guardian" repassou os documentos para o "New York Times". "Creio que você acaba de reconhecer um ato criminoso", disse Reckless. A mensagem foi captada pela Scotland Yard e, após a audiência, a polícia confirmou ter aberto uma investigação.

Reportagem de Eric Albert para o Le Monde, reproduzida no UOL

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