quarta-feira, 3 de junho de 2015

Um tucano no deserto

Fundador do PSDB e coordenador do programa de Aécio em 2014, o ex-deputado Arnaldo Madeira está decepcionado com o partido que ajudou a criar. Ele ficou contrariado ao ver os tucanos votarem contra ideias que defendiam, como o fator previdenciário e a reeleição.
Madeira diz que o PSDB está renegando suas bandeiras com um único objetivo: ampliar o desgaste do governo. "Está difícil entender o partido. Em vez de defender conceitos, estamos fazendo uma oposição igual à que o PT fazia contra nós. Agora só falta o PSDB votar contra a Lei de Responsabilidade Fiscal", ironiza.
Líder do governo FHC na Câmara, o ex-deputado alerta que o tiro contra o fator previdenciário pode sair pela culatra se os tucanos voltarem ao poder em 2018. "A situação da Previdência é muito difícil. A esperança de vida só aumenta, e nós estamos dizendo que as pessoas podem se aposentar mais cedo. Na verdade, só estamos fazendo isso para atrapalhar o governo", afirma.
Na noite em que a Câmara aprovou o fim da reeleição, Madeira se irritou ao ouvir um colega de sigla dizer que o mecanismo serve "para países desenvolvidos, não para o Brasil". "Quem implantou a reeleição foi o PSDB. Isso é uma forma de depreciar o eleitor brasileiro", critica.
Ele também protesta contra o último programa tucano na TV, que dramatizou os efeitos da crise e mostrou uma família de desempregados na chuva. "Essa é a linguagem petista, não a nossa. Precisamos encurralar o PT com números e dados", defende.
Com o currículo que ostenta, Madeira merecia ter suas críticas ouvidas e debatidas a sério pelo PSDB. Ele diz que está ocorrendo o contrário. "Eu me sinto como um pregador no deserto", desabafa.

Texto de Bernardo Mello Franco, na Folha de São Paulo

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