sexta-feira, 12 de junho de 2015

Tucanos, petistas e a volta do Marciano

Palomas acordou com a volta do Marciano.
Marqueteiro, ele chegou de bombacha. Já foi avisando que ficaria até 21 de setembro. Prepararam um churrasco para receber o visitante ilustre. Marciano, mal desceu do disco voador, já quis saber as novidades da República.
–A coisa tá hosca – resumiu o Candoca.
–  Dá uma clareada para eu entender melhor, parceiro.
– Não fala essa palavra, amigo, que pega mal.
– Ué, por quê?
– Lembra as relações de políticos com empreiteiros.
– Compreendo. Mas desembucha. Como andam as coisas?
– Bueno, tchê, é mais ou menos isto: o governo, cujo ministro da Fazenda é do time do Armínio Fraga, mandou para o Congresso Nacional um pacotaço apelidado eufemisticamente de ajuste fiscal. Na hora em que a inflação galopa e o desemprego aumenta, propõe dificultar o acesso ao seguro-desemprego. As pensões para viúvas também vão ficar mais apertadas. E tem um novo e flamante plano de privatizações.
– Os tucanos ganharam as eleições? Não chegou a notícia em Marte.
– Não sacaneia, Marciano.
– Estou falando sério. Como serão essas privatizações?
– São concessões por tempo determinado, Marciano.
– Qual a diferença entre concessões e privatizações, parceiro?
– Concessão é uma privatização por tempo determinado feita pelo PT com financiamento do BNDES. Privatização inclui vendas ou concessões por tempo determinado feitas pelo PSDB com financiamento do BNDES.
– Acho que a viagem de Marte até aqui, mesmo curta, me faz mal à cabeça. Deve ser o fuso horário. Não entendi. Explica melhor, tchê.
– Quando o PSDB propunha conceder a exploração de uma estrada ou de um aeroporto por tempo determinado, os petistas chamavam isso de privatização. Quando o PT faz o mesmo, o termo deve ser concessão.
Marciano sorveu um gole de mate. Ficou pensando. Como tudo era diferente de Marte. Candoca começou a falar do fator previdenciário. Contou do empenho da oposição para aprovar a fórmula 85/95.
– O PT na oposição é fogo –– exclamou Marciano.
– Mas não é o PT que está na oposição, Marciano. É o PSDB.
– Para de embromar, Candoca. O PSDB contra o fator previdenciário?
– E o PT pedindo cautela. Parece que a presidente vai vetar?
– Conta outra, Candoca! Sou Marciano, mas não sou burro. Nunca o PT vai propor arrocho, redução de direitos trabalhistas, dificultar acesso a seguro-desemprego, privatizações e manutenção do fator previdenciário. E nunca que os tucanos vão querer derrubar o fator.
– Acontece, Marciano, que as coisas mudaram. O PMDB está dando as cartas e jogando de mão. Eduardo Cunha, na Câmara dos Deputados, e Renan Calheiros, no Senado, trazem a presidente na rédea curta.
– Mas o PT não fez tudo para reeleger o Renan Calheiros?
– Fez, amigo. Mas o jogo virou. Eduardo Cunha está bancando uma reforma política e fazendo votar coisas que eram só para marciano ver. Até a redução da maioridade penal está na pauta. Uma loucura.
– O que vai mudar com a reforma?
– Nada. Salvo que poderá não ter mais reeleição de presidente.
– O PSDB vota contra, claro.
– Não, claro que não. Vota a favor do fim da reeleição.
– Tche, Candoca, em Marte tudo isso seria oportunismo e incoerência.
–  É que Marte não tem tradição democrática, companheiro.

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