quinta-feira, 11 de junho de 2015

Militares dão força à visita de Dilma aos EUA

A cooperação militar entre o Brasil e os Estados Unidos é estreita há muitos anos. Nos governos do PT, só cresceu.
Do Haiti ao golfo da Guiné, da fábrica da Embraer em Jacksonville à compra americana de 20 Super Tucanos para uso no Afeganistão, os militares dos dois países ficaram mais próximos que em qualquer momento desde a Segunda Guerra mundial.
Lula e Dilma patrocinaram isso com dinheiro novo. O BNDES levou crédito barato a start-ups da indústria da defesa e a empreiteiras que usaram a oportunidade para entrar no negócio militar.
O processo foi facilitado com aumentos sistemáticos do orçamento da Defesa e com a Estratégia de Defesa Nacional (2009) e o Livro Branco (2012), peças desenhadas para iniciar o longo e árduo processo de racionalizar o gasto das três forças.
Nos EUA, a transformação foi vista como oportunidade grande o suficiente para justificar uma revisão da política restritiva de venda de tecnologias sensíveis.
Juntos, os dois países estabeleceram quatro diálogos formalizados sobre o tema e negociaram dois acordos para facilitar seu comércio.
O coroamento desse esforço seria uma compra gigantesca de caças da Boeing.
O escândalo da espionagem, há dois anos, jogou tudo a perder. O Brasil decidiu comprar caças suecos, não americanos, e suspender os diálogos recém-criados.
Fora do radar, porém, houve pragmatismo e acomodação de ambas as partes.
As marinhas dos dois países mantiveram a cooperação e, em algumas áreas, a aumentaram. Continuaram as reuniões de planejamento, os programas de treinamento conjunto, e o Brasil comprou dos EUA mísseis antinavio.
Manteve-se ainda a parceria contra a pirataria na costa da África, onde americanos combatem o terrorismo e brasileiros, a rota da coca escoada pelo porto de Santos.
Agora, esse investimento renderá frutos concretos para Dilma.
No fim do mês, antes de ela encontrar Obama na Casa Branca, seu ministro da Defesa passará quase quatro dias na capital americana.
Tudo indica que ele levará na mala um acordo bilateral de defesa já ratificado pelo Congresso Nacional. Mostrará ainda que o outro lá tramita em regime de urgência.
O ministro anunciará a retomada dos diálogos oficiais e aparecerá em Washington com representantes da indústria brasileira de defesa. Existe a possibilidade de os americanos comprarem uma dúzia de Super Tucanos para sua operação no Líbano.
A maior dificuldade, claro, é dinheiro. O ajuste fiscal brasileiro reduziu o orçamento militar, ao passo que o ajuste americano fez o mesmo com o Comando do Sul, responsável pela relação com a América Latina.
A mensagem central, porém, ficará clara. O Brasil está aberto a negócios porque tem interesses concretos na área. E a relação estratégica avançará porque, apesar das diferenças e da retórica, na Amazônia e no Atlântico Sul os dois países mantêm uma bateria de objetivos comuns.


Texto de Matias Spektor, na Folha de São Paulo

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