sexta-feira, 26 de junho de 2015

Racismo


O racismo voltou a exibir sua feiura nos Estados Unidos, no homicídio de nove paroquianos negros, entre os quais a reverenda Clementa Pinckney, senadora estadual pelo Partido Democrata na Carolina do Sul, durante uma aula sobre a bíblia na Igreja Episcopal Metodista Africana Emanuel, a mais antiga congregação negra no sul do país. O homicídio em massa foi supostamente perpetrado por Dylann Roof, 21, um atirador racista.
O presidente Barack Obama expressou sua frustração quanto ao mais recente episódio de mortes de negros nos últimos meses, bem como quanto à tarefa de um dia afastar os norte-americanos de seu amor aparentemente obsessivo por armas de fogo.
Depois de um ano de intenso debate sobre as relações raciais nos EUA por conta de diversas mortes de negros desarmados por policiais brancos, e de um movimento renovado pelos direitos civis, é triste que o primeiro presidente negro do país se veja forçado a lidar constantemente com o legado do racismo em sua sociedade.
Até onde os políticos se importam, a questão se reduziu ao simbolismo da bandeira confederada desfraldada sobre a sede do Legislativo da Carolina do Sul, transferida a um mastro no chão em 2000. Obama declarou que a bandeira deveria estar em um museu. Para a maioria dos norte-americanos, ela é símbolo da escravidão, repressão e vergonha. Para a Carolina do Sul, especialmente, a memória da guerra civil pesa muito. Ela foi o primeiro Estado a se declarar favorável à confederação. Foi em Charleston que os primeiros disparos da guerra foram feitos. Foi em abril de 1861 que o bombardeio confederado ao Forte Sumter deflagrou os quatro anos de luta entre o norte e o sul. O Estado, que tinha uma população de 301 mil pessoas livres e 402 mil escravos, perdeu 12 mil homens brancos durante a guerra, a maior porcentagem entre todos os Estados sulistas.
A Carolina do Sul também proveu um dos heróis negros da guerra civil, Robert Smalls, escravo que escapou com o código secreto dos confederados, contendo sinais e a localização das minas e torpedos posicionados na baía de Charleston. Ele também ajudou a persuadir Abraham Lincoln a aceitar soldados negros no exército da união. As forças confederadas abandonaram o Forte em 1865, e o 54º Regimento de Massachusetts, uma unidade negra, marchou para a cidade de Charleston.
Os paroquianos negros da igreja Emanuel receberam com gentileza o jovem branco Dylann Roof quando ele se uniu ao seu grupo de estudo da Bíblia. Talvez, nos próximos dias, os brancos e negros devam recordar sua história compartilhada, a do ex-escravo e unionista Robert Small e eles possam todos começar a deixar para trás os divisivos ódios do passado.

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