Na semana passada, o senador Aécio Neves deu mais uma prova de que não está preparado para ser presidente da República. A sua investida na Venezuela foi típica a de um aventureiro, que não mede as consequências de seus atos, desde que estes lhes aufiram dividendos políticos pessoais. Um político sério deve guiar-se sempre pelo princípio da responsabilidade, pressupondo e perscrutando sempre as previsíveis consequências de suas ações. Não foi isto que Aécio e os senadores que o acompanharam à Venezuela fizeram.
Acossado pelo lançamento da candidatura presidencial do governador Geraldo Alckmin, incapaz de unificar e de dirigir politicamente o PSDB, Aécio vislumbrou na Venezuela a possibilidade de teatralização de uma ação inconsequente para aparecer como um arauto da liberdade. Na prática, esteve na iminência de provocar um incidente diplomático grave. De forma oportunista, serviu-se do episódio da Venezuela para gerar intrigas com o Itamaraty e para atingir o governo Dilma.
A Venezuela, de fato, está imersa num conflito político grave, de desdobramentos imprevisíveis. A crise econômica e social, com descontrole inflacionário e desabastecimento, não é menos preocupante. O esforço dos países Sul-americanos, agregados na UNASUL, consiste em articular mediações e negociações visando apaziguar os ânimos e impedir que o conflito desague em derramamento de sangue. Dado esse risco, toda a ação política que se baseia na sensatez, no bom senso e na responsabilidade deveria consistir na busca de uma saída negociada. Ou seja: é preciso estimular o funcionamento dos mecanismos democráticos para que o povo venezuelano encontre, de forma pacífica, uma saída para a sua crise sem interferências externas.
Aécio Neves e os senadores que o acompanharam estavam desprovidos de qualquer propósito de mediação e de neutralidade no conflito venezuelano. Pelo contrário, adotaram uma postura provocadora, acirraram os ânimos e optaram por um dos lados do conflito. O grupo de senadores brasileiros não teve nenhum compromisso com a responsabilidade política, pois o que se trata, neste momento, é evitar que a Venezuela ingresse num momento de conflito político armado, justamente quando o governo da Colômbia e a guerrilha das FARC estão num processo de finalização de um acordo de paz depois de mais de cinco décadas de guerra. Garantir que a América do Sul seja uma zona de paz política é uma condição necessária para que a região encontre soluções para os seus outros desafios como a desigualdade, a pobreza, a violência social, o narcotráfico e o baixo desenvolvimento.
As Mentiras e a Falta de Decência Política de Aécio e seu Grupo
Aécio e o seu grupo destoam e contrariam dos objetivos dos demais governos sul-americanos em relação à Venezuela, que consiste em buscar uma saída mediada e negociada para a crise política daquele país. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o líder oposicionista e governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, duas vezes candidato à presidência da República, testemunha o esforço do governo Dilma e do Brasil para mediar o conflito. Afirma que foi procurado pelo então chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo para ter um canal direto de comunicação com o governo brasileiro e que conseguiu participar da reunião dos chanceleres da UNASUL porque o Brasil garantiu sua presença. Com estas afirmações, Capriles evidencia que Aécio e seu grupo de senadores estão mentindo em relação ao que se passa na Venezuela e à postura do governo brasileiro.
Outra mentira de Aécio e seu grupo se relaciona à conduta da embaixada brasileira em Caracas. Os senadores foram informados de que o embaixador brasileiro os receberia no Aeroporto e se despediria do grupo na hora da partida, já que não poderia acompanha-los até o presídio por conta das implicações diplomáticas óbvias. Ao chegarem a Caracas, os senadores afirmaram que eram compreensíveis as razões do embaixador para, depois do incidente com os manifestantes, acusa-lo, sem pudor, de tê-los abandonado.
As bravatas midiáticas de Aécio e se exército não pararam por aí. Em solo brasileiro afirmaram que irão pedir a exclusão da Venezuela do Mercosul, que apresentarão a convocação do embaixador brasileiro na Venezuela e que acionarão a presidente Dilma no Supremo Tribunal Federal por suposta violação da cláusula democrática. Dê-se novamente a palavra ao oposicionista Capriles sobre esse aspecto da exclusão da Venezuela do Mercosul: ele afirma que quem sofreria com isto seria o povo venezuelano. Meça-se a partir desse metro a pequenez política e moral de Aécio Neves e seu grupo. O oportunismo midiático do senador tucano e de seus companheiros não leva em consideração os interesses de Estado, tanto do Brasil, quanto da Venezuela, os interesses dos dois povos, as empresas e os empregos que estão envolvidos nas relações comerciais entre os dois países. Afinal de contas, a Venezuela é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na América do Sul.
Tudo somado, o fato é que se a existência de prisioneiros políticos na Venezuela é algo a ser condenado, não é jogando gasolina no fogo ou acendendo fósforo num paiol de pólvora, como disse Marco Aurélio Garcia, que se resolverá o problema. É preciso usar o bom senso, o equilíbrio e a mediação. Se existem prisioneiros políticos como Leopoldo López e Daniel Cabellos, existem também oposicionistas governando estados, como é o caso de Henrique Capriles. Tanto no governo, quanto na oposição existem aqueles que querem saídas não democráticas.
O golpismo de setores oposicionistas é histórico na Venezuela. Assim, o senso de responsabilidade consiste em promover o entendimento entre os setores do governo e da oposição que acreditam que a saída da crise é pela via da democracia, pela via do voto. Aécio e seus acompanhantes em nada contribuíram para isto. Parecem mais dispostos a estimular o golpismo e a radicalização do que a democracia e a paz. Depois de semear o ódio político no Brasil, Aécio parece propor-se, em seu despreparo e em seu aventureirismo, a exportá-lo para os nossos vizinhos. A conduta de Aécio Neves confere cada vez mais credibilidade a militantes tucanos de São Paulo que nunca confiaram no senador mineiro por considera-lo superficial e irresponsável.
Texto de Aldo Fornazieri, no Jornal GGN.
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