sábado, 20 de junho de 2015

Fazenda ensaia uma autocrítica

Em março a presidente Dilma Rousseff garantia que, na economia,  o pior já tinha passado. Na quinta (18), a Fazenda falava em aliviar o arrocho de 2015 e ampliar o prazo para o reequilíbrio fiscal para depois de 2016. E, no Palácio, tinha-se a leve esperança de que até o fim do ano possa haver alguma indicação de recuperação da economia.
Nós dizíamos aqui:
  1. A recessão mal começou.
  2. A recessão trará uma queda de receita que frustrará qualquer meta de superávit primário.
  3. As taxas praticadas pelo Banco Central impedirão a meta de estabilizar tanto a dívida líquida quanto a dívida pública, como proporção do PIB.
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Todo esse sacrifício visava convencer as agências de risco da seriedade de propósitos do governo, em promover um ajuste fiscal radical, junto com uma política monetária severa.
Tudo isso dentro do enfoque de que ajustes radicais doem mas levam a recuperações rápidas do paciente.
Essa tolice está muito mais ligada à visão cristã da economia – segundo a qual, quanto maior o sacrifício, maior a redenção - do que a uma visão técnica e realista do quadro econômico, social e político.
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Dias atrás, admitiu-se que nas próximas rodadas haverá um novo rebaixamento do rating Brasil, devido à falta de perspectiva de crescimento da economia, tornando impraticáveis as metas de redução da relação dívida/PIB e de melhoria fiscal.
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De fato, com a economia já caindo no final do ano passado, a combinação mortal de ajuste fiscal e juros acelerou a recessão levando a uma frustração da arrecadação.
A falta de resultados imediatos, por seu turno, enfraquece politicamente o governo, em uma quadra da história em que o baixo clero assumiu as redes da Câmara.
Tudo isso leva a uma revisão da tolice anterior, de que ajuste radical é ajuste rápido, sem levar em conta os impactos sobre as redes econômicas e sobre o cenário político.  
Diga-se em favor da equipe atual que a diferença do período anterior está no reconhecimento dos erros da política econômica e em uma eventual correção de rumos. Segundo a Fazenda, está debruçada de forma “holística” sobre os cortes. Por tal, entenda-se, avaliando seus efeitos sobre nível de atividade.
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Terá sido em vão se não se incluir nessa “visão holística” a política monetária do Banco Central.
O nível da taxa básica de juros impossibilita qualquer sonho de estabilizar a dívida bruta como proporção do PIB (Produto Interno Bruto). Dados divulgados na semana passada mostram que mais de 90% dos recursos dos fundos VGBL e PGBL, de previdência privada, estão alocados em títulos de renda fixa, de prazo diário.
Ou seja, enquanto a política monetária não reduzir a remuneração de curto prazo dos títulos públicos, o principal investidor de longo prazo – os fundos de investimento e de pensão – não sairá a campo para produzir a tal agenda de investimento.
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Esses erros atrasam a recuperação da economia, enfraquecem politicamente o governo, mas não atrapalham a agenda positiva. Pelo contrário, ela se torna premente.
E essa agenda não depende apenas de recursos orçamentários e de obras. Passa por começar a se trabalhar efetivamente os fatores de competitividade, a burocracia, o cipoal fiscal, a integração das políticas públicas, as bandeiras da educação, inovação, o comércio exterior.


Reprodução do Blog do Luís Nassif

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