Vai se tornando público o que era comentado desde a morte de Jaime Gold, no último dia 20: o adolescente rapidamente apresentado como responsável pelas facadas que mataram o médico, no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, não estava na cena do crime.
Ele pratica assaltos, sim, e por isso integra a lista dos "suspeitos de sempre". A polícia parece ter lançado mão dela para mostrar eficiência e dar à sociedade e à imprensa o que estas queriam: um menor de idade para ser linchado (desta vez, apenas virtualmente).
Queridinha dos jornais quando lhes interessa, a delegada Monique Vidal, da 14ª DP (a primeira a cuidar do caso, antes da Divisão de Homicídios), comentou no Facebook que a única testemunha afirmara ser impossível reconhecer os criminosos --e quem conhece aquela área escura da Lagoa entende isso. Monique Vidal fortaleceu, assim, a hipótese de o adolescente detido ser uma "bucha", um falso culpado.
Dos dois rapazes que roubaram a bicicleta de Gold, pelo menos um é menor de idade. Ou seja, quem defende a redução da maioridade penal pode continuar vibrando. Mas a polícia que queremos é essa, que fabrica culpados e encerra as investigações sem encontrar provas?
Na quinta (28), o jornal "O Globo" informou que policiais são suspeitos de controlar a venda de produtos roubados, sobretudo celulares, no camelódromo da rua Uruguaiana. (Isso é tão novidade no Rio quanto dizer que há tramoias na CBF.)
Vejamos, então. Os celulares roubados nas ruas rendem dinheiro para policiais. A população pede mais policiamento. Quando este aparece, prende um ladrão que já conhece, pois é um elo da mesma cadeia econômica. Se não aparece, cidadãos assustados contratam empresas de segurança privada. Entre os donos destas estão policiais e ex-policiais.
A banca sempre ganha.
Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.
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