Uma das frases mais descaradas da cena política moderna foi pronunciada hoje por FHC.
Ele disse não ver problemas em empreiteiras darem dinheiro para seu instituto. Para o instituto de Lula, é outra história.
Por cínica que seja, por despudorada que soe, a frase não poderia ser mais correta, no mundo das coisas reais.
Para simplificar, FHC pode tudo porque é um intocável.
A imprensa não o fiscaliza e a Justiça não o aborrece: é a retribuição que o 1% dá aos que defendem seus interesses, como FHC.
Ele pode comprar no Congresso os votos que lhe permitiriam um segundo mandato.
Não acontece nada.
Ele pode nomear seu genro para uma função estratégica na administração do petróleo e depois demiti-lo quando este de divorciou da filha, numa bofetada sinistra no conceito de meritocracia.
Não acontece nada.
Ele pode arrumar uma sinecura para uma filha no Congresso.
Não acontece nada.
Ele pode patrocinar com recursos públicos uma nova gráfica das Organizações Globo, saudada como um retrato do século 21 mas hoje um fracasso miserável.
Não acontece nada.
Ele pode nomear um juiz como Gilmar Mendes para o STF, completamente alinhado com o PSDB.
Não acontece nada.
A lista é interminável.
O caso das empreiteiras é apenas mais um.
Seu herdeiro entre os intocáveis é Aécio. Eis outro que pode tudo.
Aécio pode ser amigo do peito de um homem em cujo helicóptero foi encontrada meia tonelada de pasta de cocaína.
Nenhum jornal o questiona sobre isso. Nenhum sequer cita a amizade, expressa em fotos em que ambos estão abraçados.
Aécio pode construir um aeroporto particular com dinheiro público e, em questão de semanas, se sentir tão inimputável que se põe a fazer discursos moralistas.
Aécio pode dar dinheiro público a rádios de sua família – dele mesmo, portanto – em Minas Gerais.
Ninguém o cobra por isso.
Como FHC, Aécio pode tudo. Pode ser flagrado por um vídeo completamente bêbado numa madrugada no Rio, pode fugir de um teste no bafômetro – e ainda assim o apelido de Brahma será dado a Lula.
A impunidade de homens como FHC e Aécio é uma das maiores tragédias nacionais.
Enquanto ela persistir, a Justiça será desacreditada, objeto de escárnio e ira. E a mídia será o que é: o pilar de um sistema em que o 1% pode fazer qualquer coisa.
A posteridade não haverá de ser tão complacente para figuras como FHC e Aécio.
Seus netos haverão de vê-los representados como símbolos de uma sociedade iníqua, injusta – repulsiva.
Reprodução de texto de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.
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