Após encurralar e render o menor Eduardo Felipe Santos Victor, cinco policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Morro da Providência atiraram e mataram-no. Eduardo tinha 17 anos e havia levantado as mãos. Segundo testemunhas, ele tinha envolvimento com o tráfico.
Depois de atirar à queima-roupa, um dos policiais então coloca um revólver na mão de Eduardo e efetua dois disparos utilizando o dedo indicador da vítima. Isso comprovaria que: A arma teria sido usada contra os policiais; Eles teriam atirado em legítima defesa; o exame residográfico acusaria pólvora na mão do atirador.
O clássico “auto de resistência”.
Tudo certinho não fosse ele, o onipresente celular. Uma testemunha registrou tudo em vídeo. A armação não se sustentou em pé por mais que algumas horas.
A corregedoria da PM determinou a prisão dos cinco policiais da UPP que foram levados ao 4º DP onde, na noite de ontem, dezenas de pessoas moradoras do Morro da Providência protestaram. O Batalhão de Choque foi chamado para conter os indignados e lançou bombas de efeito moral para … bem, para moralizar, eu acho.
Que moral tem a polícia hoje em dia?
O Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que “repudia atos como esse” e que irá determinar “rigor nas investigações” e “punição exemplar” e blablabla.
Outros militares, em entrevistas, também repetem o discurso de não se poder avaliar toda uma corporação tomando por base um “caso isolado”, algum comandante/major/tenente disserta sobre “frutas podres”.
Quantos casos iguais a esse ocorreram? Não faz nem uma semana debatíamos isso em virtude de caso semelhante ocorrido no bairro do Butantã em São Paulo.
No Rio de Janeiro, o número de mortes decorrentes de autos de resistência teve um aumento de 48,2% se compararmos o mês de fevereiro deste ano com o mesmo período de 2014. Foram 83 mortes em apenas um mês. São muitas as frutas podres então, concorda?
Está mais que na hora de debater de onde vêm essas frutas podres. Já chegam assim à corporação ou tornam-se podres após o ingresso?
Eduardo aumentará a estatística divulgada em estudo feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública na qual um jovem negro tem 25 vezes mais chance de ser assassinado do que um branco.
Não importa se Eduardo tinha ou não envolvimento com o tráfico. Foi assassinado e sua cor e condição social têm muito a ver com isso. Fosse um rapaz branco de classe média, seria detido e polícia e mídia o tratariam como “acusado de tráfico”.
É assim sempre e não foi diferente com Pedro Henrique Sequeira, de 29 anos, e Thyago Barcellos Teixeira, 27, presos em março deste ano no mesmo Rio de Janeiro. Eles estavam com 300 quilos de maconha mas foram tratados como suspeitos e todos os verbos conjugados no modo condicional.
A missão da polícia é prender, não sentenciar e executar. Não tem que acariciar o fuzil e dizer: “Olha o meu bebezinho aqui. Neném vai cantar, né? Neném vai cantar para o bandido mimir”, como fizeram há poucos meses policiais do Batalhão da Maré.
Na ocasião, a Polícia Militar do Rio informou que os PMs receberiam “orientações educativas quanto à postura esperada deles enquanto servidores públicos.” De duas, uma: ou as orientações não estão sendo ministradas ou elas vão no sentido de ensinar o fuzil a cantar mesmo.
Os justiceiros andam assombrando o país. Com ou sem farda. E essas frutas podres que vêm no cesto dos Bolsonaros da vida ainda nos trarão imensos problemas. Anote aí.
Texto de Mauro Donato, no Diário do Centro do Mundo.
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