sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Multiartista Luiz Carlos Miele morre no Rio aos 77 anos

ILUSTRADA EM CIMA DA HORA

Multiartista Luiz Carlos Miele morre no Rio aos 77 anos

Showman paulistano radicado no Rio teve mal súbito na manhã de quarta e será enterrado hoje
Produtor, diretor, ator, humorista, empresário e grande contador de histórias revelou ao país nomes como Elis
DO RIO

"Miele, força de leão, coração de beija-flor. (...) O Luiz artista, bom de bola, de papo, de copo." Assim a amiga Elis Regina definiu Luiz Carlos Miele, o produtor, diretor e showman que ajudou a promover sua carreira e a de inúmeros artistas da bossa nova.
Miele morreu aos 77 anos na manhã de quarta (14) após passar mal em sua casa, em São Conrado, zona sul do Rio. As causas da morte não haviam sido informadas até a conclusão desta edição.
Segundo Vânia Barbosa, sua empresária, na terça (13) Miele saiu para jantar com sua mulher, Anita Bernstein –com quem estava casado havia 47 anos–, e amigos.
"Ele estava bem até a noite de terça. De manhã, a Anita acordou e viu o Miele no chão, passando mal", disse.
Anita chamou os bombeiros por volta das 8h20. A ambulância chegou cerca de 15 minutos depois, mas o produtor já estava morto.
Filho da atriz e cantora Irma Miele, Luiz Carlos conviveu desde criança com o ambiente artístico. Aos 12 anos, começou a trabalhar como ator no programa "Meu Filho, Meu Orgulho", na rádio Excelsior.
Paulistano que adotou o Rio em 1959 ("Eu gostaria de viver todos os dias à tarde no Rio e à noite em São Paulo", disse em entrevista ao UOL), iniciou sua carreira na capital carioca na TV Continental, como diretor de estúdio.
Passaria por inúmeras funções atrás das câmeras em várias fases da TV, em canais como Excelsior, Tupi, Record, Globo, SBT e Manchete.
No mesmo ano em que se mudou para o Rio, conheceu o jornalista e letrista Ronaldo Bôscoli (1928-1994), com quem formaria uma das mais importantes duplas do show business brasileiro.
Juntos, produziram shows no hoje lendário Beco das Garrafas, em Copacabana, onde foram revelados Elis, Sérgio Mendes, Leny Andrade e Tamba Trio, entre outros.
Também dirigiram espetáculos de artistas como Wilson Simonal, Sarah Vaughan e Roberto Carlos, e tiveram uma boate no Rio nos anos 1970 –a Monsieur Pujol, por onde passaram astros como Dione Warwick, Burt Bacharach e Stevie Wonder.
Contratados pela Rede Globo em 1965, Miele e Bôscoli produziram dezenas de programas musicais, como "Alô, Dolly" e "Dick & Betty".
Na Record, promoveram o célebre "O Fino da Bossa".
Grande contador de histórias, atuou como humorista na maior parte da década de 1970, tanto na TV –em programas como "Faça Humor, Não Faça Guerra" (1970), "Satiricom" (1973) e "Planeta dos Homens" (1976)– quanto em shows teatrais.
Apresentava-se também como cantor, ora em parceria com Danilo Caymmi, Wanda Sá e Roberto Menescal (entre outros artistas), ora em shows solo, nos quais misturava música e humor. "Não sou cantor, mas já cantei com a Elis Regina, com a Leny Andrade, com Os Cariocas, com o [Roberto] Menescal etc. Quer dizer, sou um cantor metido a besta", disse à Folha em 2013.
Já neste século, passou a ser requisitado como ator, em cinema, teatro e TV –suas aparições mais recentes foram na minissérie "A Teia" (2014), onde interpretou o ex-senador Walter Game, e na novela "Geração Brasil" (2014), como o milionário Jack Parker.
Além da vasta produção que deixou registrada em discos, filmes e vídeos, narrou muitos de seus causos folclóricos na biografia "Poeira de Estrelas" (Ediouro, 2004).
Lá, registrou o epitáfio que gostaria de ter: "Aqui jaz, absolutamente contra a vontade, Luiz Carlos d'Ugo Miele".
Miele não deixou filhos. O corpo do artista vai ser velado na Câmara dos Vereadores do Rio, na Cinelândia, na manhã desta quinta (15). O sepultamento será no Cemitério do Caju, às 16h.


Reprodução da Folha de São Paulo

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