domingo, 4 de outubro de 2015

A morte das revistas semanais brasileiras

É a morte do jornalismo semanal. E uma morte infame, desonrosa, suja.
Tantas revelações em torno de Eduardo Cunha com suas contas na Suíça, e nenhuma revista semanal o deu na capa.
Que ele precisaria fazer para ir para a capa da Veja, da Época e da IstoÉ?
A mídia fala tanto em corrupção, e quando aparece um caso espetacular destes finge que não viu.
É uma amostra do que a imprensa sempre faz quando se trata de político amigo: joga a corrupção para baixo no tapete.
Isto se chama manipulação.
O brasileiro ingênuo é, simplesmente, ludibriado. Depois, corre para as redes sociais para vomitar as besteiras que leu na imprensa.
Durante a semana a mesma coisa ocorrera com os jornais. Eles esconderam o caso Cunha.
Fernando Morais comentou as capas logo na manhã de sábado. Notou, com razão, que parte disso é culpa do próprio PT por ter enchido de dinheiro público empresas de mídia que desinformam e não hesitam em sabotar a democracia quando sentem que seus inumeráveis privilégios correm risco.
As capas das revistas semanais e as primeiras páginas dos jornais nestes dias demonstram que, na prática, existe um monopólio na mídia brasileira.
São quatro ou cinco famílias, e na verdade uma só voz.
Não fosse a mão invisível do mercado, para usar a grande expressão de Adam Smith, e o poder das grandes corporações jornalísticas seria um obstáculo formidável ao avanço social brasileiro.
Mas a mão invisível trouxe a internet, e com ela um jornalismo que se contrapõe ao gangsterismo editorial das grandes corporações.
Fazer jornais e revistas de papel é coisa para grandes empresas, pelo tamanho dos investimentos necessários.
Mas montar um site é barato. Você não tem que imprimir sua publicação em gráficas, pagar uma distribuidora, comprar papel em fábricas finlandesas e coisas do gênero.
Seu custo é infinitamente mais baixo.
Paralelamente, a voz única das grandes corporações abre um espaço enorme para visões de mundo diferentes.
Foi assim que surgiu e floresceu, na internet, um jornalismo dissidente vital para a democracia nacional.
Considere: sob Getúlio e Jango, vítimas da imprensa, não houve contraponto à narrativa golpista da imprensa.
(Getúlio, um homem de visão, tentou resistir aos barões da imprensa com a criação de um jornal, a Última Hora, mas era quase nada diante da avalanche dos grandes jornais.)
Avalie como seriam as coisas sem o contraponto dos sites independentes.
O caso Eduardo Cunha mostra muitas coisas, e não apenas sobre a mídia. Estampa a parcialidade da Justiça e da Polícia Federal, também.
Cunha tinha que estar dedicando todo o seu tempo a se defender das acusações terríveis que pairam sobre ele.
Em vez disso, trama a derrubada de Dilma como se não tivesse nada além do impeachment em sua agenda.
Ele só faz isso porque sabe que goza de ampla proteção.
Essa proteção ficou grotescamente evidente neste final de semana, nas bancas brasileiras, com as capas das revistas semanais.

Reprodução de texto de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

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