Os jovens palestinos que estão atacando judeus em diversas partes de Israel, como voltou a acontecer nesta quarta-feira (14), são os "filhos de Oslo".
Foram assim definidos pela excelente jornalista que é Amira Hass, correspondente do jornal israelense "Haaretz" nos territórios palestinos ocupados por Israel. Trata-se de referência aos acordos de Oslo, firmados em 1993 e que trouxeram a mais promissora expectativa de paz entre judeus e palestinos.
Seria mais justo dizer que esses jovens são filhos do fracasso de Oslo, que, como lembra Amira, "não lhes deu o Estado que lhes fora prometido" e, como se fosse pouco, ainda enfrentam um desemprego juvenil que beira os 40% no conjunto da Palestina.
Não parece ser um acaso, portanto, que os atacantes palestinos sejam, todos, mais ou menos da idade de Oslo, em torno dos 20 anos.
São parte de uma geração que "amadureceu sem esperanças de um futuro melhor", como escreveu Elhanan Miller, repórter para assuntos árabes do valioso sítio "The Times of Israel".
No lugar da esperança, brotou o ódio, assim descrito por David Horovitz, o fundador do "The Times of Israel": "Depois de décadas de satanizar e deslegitimar incansavelmente o renascido Estado judeu, a liderança palestina produziu uma geração da qual muitos estão tão cheios de ódio e tão convencidos do imperativo de matar que nenhuma outra consideração –incluindo a probabilidade de que morrerão no ato– impede que procurem matar judeus".
Do lado palestino, tem-se a visão do jornalista Daoud Kuttab: "A cada palestino morto ou ferido, a continuidade dos protestos está assegurada. Outra fonte de continuidade dos protestos é a ausência de esperança. Sem um processo de paz crível, é impossível pacificar palestinos jovens, desiludidos e impressionáveis, que são a maioria da população".
Mesmo que a sequência de atentados seja eventualmente interrompida pelas autoridades israelenses, por meio, por exemplo, do bloqueio aos bairros árabes de Jerusalém, o ódio continuará lá. E não há bloqueio que possa impedir a disseminação dele pelas redes sociais –o grande quartel-general virtual em que se encontram os atacantes.
Relata, por exemplo, Ahmad Buderi, um veterano jornalista palestino, para outro sítio precioso, o "Al-Monitor": "Enquanto a maioria das pessoas no mundo usa as redes sociais para compartilhar fotos e vídeos da família, na Palestina, especialmente durante tempos de tensão, as redes sociais se transformam em plataforma política, atingindo frequentemente o status de mobilização política".
O ódio não é unilateral: faz parte do aparato mental dos judeus em relação aos palestinos, o que acentua a discriminação que sofrem em Israel.
E, no entanto, estão condenados a conviver em um território pequeno, seja em dois Estados vizinhos ou em um só, dependendo do arranjo institucional a ser eventualmente feito.
Afinal, como diz Horovitz, "são dois povos com reivindicações sobre esta terra ensanguentada. Nenhum se irá dela".
Mais sangue parece inevitável, pois.
Texto de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo.
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