segunda-feira, 19 de outubro de 2015

As lições que Alckmin não vai tirar do protesto dos professores

O portão 2 do Palácio do Governo foi amplamente atacado por paus, pedras, rojões e garrafas nesta quinta-feira (15), Dia do Professor. É o melhor retrato de como a gestão Geraldo Alckmin vem tratando a educação.
O protesto desta vez foi contra a reorganização das escolas públicas estaduais mas o desgosto com o governador já não é de agora.
No início deste ano foram eliminadas mais de 3 mil salas de aula no estado de São Paulo. O resultado: escolas com mais de 50 alunos por classe. Algumas até com 90 alunos, conforme denuncia a Apeoesp.
Professores já fizeram uma greve de 89 dias no primeiro semestre e ela terminou sem que obtivessem nenhuma proposta. Foram ignorados, em suma.
O plano de agora é o de segmentar escolas por ciclos de ensino. Fundamental 1 (do 1º ao 5º ano), Fundamental 2 (do 6º ao 9º ano), e Ensino Médio. Daí Alckmin e seu Secretário de Educação, Herman Voorwald, cutucaram o vespeiro dos estudantes também. Todos estão contra.
À primeira vista até parece uma medida razoável. Mas alunos e professores, presentes ao protesto, expõe suas opiniões:
“Isso nada tem a ver com melhoria. Isso é corte nos custos. Vende a ilusão de melhoria do ensino mas fecha-se salas de aula. O Secretário diz que tem uma estrutura para atender 6 milhões de alunos e que está atendendo só 4 milhões mas em vez de diminuir o número de alunos por sala que proporcionaria um melhor atendimento na qualidade e no trabalho do docente, ele prefere ‘reorganizar’ e superlotar classes. O que poderia significar a contratação de professores, significará mais cortes. Essa é a mentalidade do governo”, afirma o professor Maurício Silveira que lecionava na E.E. Jardim Santa Maria, em Osasco, e exonerou-se do cargo após o fim da greve exatamente pela precarização das condições de trabalho e pelo arrocho salarial.
A insatisfação é muito grande e associada à insegurança. Todos estão completamente no escuro. Já estamos no meio de outubro e o governo diz estar analisando a situação de 3.600 escolas, sem definir ainda quais e quantas serão fechadas. Levantamento parcial da Apeoesp feito a partir de dados das próprias diretorias de ensino ligadas à Secretaria Estadual de Educação, indica que pelo menos 127 escolas serão fechadas. A medida vai afetar mais de 1 milhão de alunos.
Pelo plano de reestruturação, o estudante que necessite mudar de escola pela razão de que ela não mais comportará seu ciclo, será remanejado para uma unidade a 1,5 km de distância, no máximo. Qual bairro o leitor conhece que possui 3 escolas estaduais tão próximas uma das outras? A queixa de pais e alunos é porque sabem que serão transferidos para muito longe. E se a questão da distância é primordial, há mais outros fatores que fazem com que os alunos se revoltem.
Aline é da E.E. Diadema. Cursa o Ensino Médio na turma noturna da escola. Já foi informada de que este período será fechado. Ela precisaria se mudar para outra escola e estudar pela manhã ou à tarde. Mas ela trabalha durante o dia para ajudar com as despesas da família. Além disso, alega que a escola que está sendo indicada em substituição é de estrutura muito abaixo sua. Segundo, Aline, a E.E.Diadema é a melhor da região, estudantes de lá têm obtido excelentes resultados no ENEM e alguns já chegaram a entrar em Medicina na USP. Um aluno da E.E. Diadema já venceu um prêmio internacional do Senai.
Por que uma escola conceituada fechará a turma da noite de ensino médio? Só vejo duas respostas para explicar o descalabro. Uma delas foi corroborada por um outro professor que não quis se identificar. Ao queixar-se com a dirigente de que havia alunos em pé em sua sala devido a superlotação, ouviu: “Deixa estar, calma, esse povo logo logo vai parar de estudar.”
Traduzindo, contam com a evasão escolar ao invés de esforçarem-se pela permanência da criança e do jovem na instituição de ensino. O que, de quebra, gera mão-de-obra barata, captou?
A segunda explicação está no milionário mercado do ensino privado que não quer concorrência. O sucateamento da educação faz parte da velha estratégia de forçar os pais de alunos a pagar por educação.
Este ano a Secretaria Estadual da Educação de Alckmin já cortou 10 mil vagas no programa Vence (que oferece bolsas de estudo no ensino técnico a alunos do ensino médio).
É por tudo isso que a portaria 2 do Palácio hoje teve seu dia de fúria. E, claro, em virtude do procedimento padrão Geraldo Alckmin para debelar problemas. Em qualquer situação, envia-se a PM auxiliada pela Tropa de Choque e tudo bem.
No último protesto dos estudantes na Avenida Paulista, dia 9, a PM prendeu, bateu, jogou gás de pimenta na cara de adolescentes. Policiais faziam pouco caso, diziam aos menores que “se quisessem uma escola melhor deveriam estar na sala de aula, estudando”.
Se Alckmin colaborasse, eles estariam.

Texto de Mauro Donato, no Diário do Centro do Mundo

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