terça-feira, 20 de outubro de 2015

Cunha, o morto-vivo que assombra o país

Na última manifestação contra corrupção no Brasil havia faixas com o incrível dizer: “Somos milhões de Cunhas”. De lá para cá, Eduardo Cunha afundou. As suas contas na Suíça ganharam notoriedade e sua ética desabou como as ações da Petrobras. Apesar disso, Cunha continua tendo protetores dispostos a mantê-lo, entubado ou não, na presidência da Câmara dos Deputados. Curiosamente os defensores pertencem a campos opostos: situação e oposição.
O governo Dilma encontrou, enfim, uma moeda de troca: salva Cunha da cassação e é salvo por Cunha de um processo de impeachment. Lula entrou em campo para tocar a Operação Abafa o Fora Cunha. Todos os gatos são pardos. Nem todos os pardos, felizmente, são gatos.
A oposição, conduzida pelo PSDB, que se dá o bonito papel de paladino da ética, junto com o DEM, recusou-se a assinar um requerimento contra Eduardo Cunha. É a indignação seletiva. Os tucanos continuam achando que podem usar o atolado Cunha para fazer Dilma rolar do Planalto. Nesse caso, aplica-se a lei do interesse maior: o poder. Nada do que é banal para um homem comum corresponde à lógica do tabuleiro dos políticos. Não se combate a corrupção por, de fato, considerá-la o mal que é, mas como um pretexto para minar o oponente.
Eduardo Cunha é um morto-vivo.
Um fantasma que anda, ameaça, esperneia, negocia e calcula: quem pode lhe dar mais? PT ou PSDB? O seu PMDB faz de conta que nem está acompanhando os fatos.
Por ser muito vivo, finge-se de morto para velar o morto-vivo.
Cunha é a cara da politicagem que satura boa parte dos brasileiros: jura, provoca, mente, atua por baixo dos panos, faz jogo de cena, mantém preso o rabo do baixo clero, discursa e não dá o braço a torcer. Vive numa realidade paralela. É o novo Paulo Maluf. Nega fatos, fotos, documentos e assinaturas. Dificilmente escapará da guilhotina. Já anda com a cabeça numa chapeleira. Não perde, no entanto, a pose. Vai morrer atirando. Ou sobreviver comprometendo reputações. Cunha para os tucanos é bagrinho. Dilma e Lula são os tubarões. Manter Cunha respirando é a isca do PSDB para tentar abater elefantes de esquerda. Dane-se a coerência, a ética e a urgência. Já para o PT, Cunha é uma anta que deve ser preservada da extinção prematura. Depois, que se dane. Lula já salvou José Sarney e Renan Calheiros da forca.
Por que não faria o mesmo com Eduardo Cunha?
Onde tudo parece igual, há diferenças que não viram manchete: nenhuma conta secreta de Dilma Rousseff foi encontrada na Suíça até agora. Não há Fiat Elba na sua garagem. Não há irmão acusando-a de ser chefe de quadrilha. O jurista Dalmo Dallari, em entrevista ao Esfera Pública, da Rádio Guaíba, classificou a ideia de impeachment como uma “fantasia”. Dallari é tido como petista. Ele afirmou ter tido um único partido na vida: o Partido Libertador, de Raul Pilla. Dallari caracterizou as pedaladas fiscais como manobra contábil. Crime para ele é roubar ou receber propina. A guerra continua. Eduardo Cunha está crivado de balas. Cambaleia. Tem a mão no colt. Vai disparar? Será socorrido? Morrerá no hospital? Ressuscitará? Tudo é possível. No faroeste brasileiro, vivo é quem sabe até morrer na hora certa para reviver quando puder.

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