Judeus e palestinos chegaram a um ponto de não retorno: ou se separam o mais depressa possível, ou vão se matar aos poucos, ou, o que seria ainda mais dramático, entrarão em uma nova guerra de independência (dos palestinos, que perderam a primeira, em 1948).
A sinalização mais clara de que se atingiu tal situação nem é dada, a meu ver, pelos atentados diários contra judeus e pelas mortes de seus praticantes ou de outros manifestantes palestinos.
Está em um fato menor do cotidiano, relatado pelo sítio "The Times of Israel". Jessica Steinberg, a correspondente para assuntos dos sabras (os judeus nascidos em Israel), relata que as faxineiras (árabes) da escola Efrata, no sul de Jerusalém, foram proibidas de trabalhar no horário em que as crianças (judias) estão na escola, justamente o horário em que são mais necessárias, como é óbvio.
A mudança de horário é fruto do medo de que as faxineiras façam como outras palestinas e decidam atacar a facadas a criançada.
Não é um caso isolado: o Canal 2 da TV israelense informa que em Givatyim, subúrbio de Tel Aviv, as faxineiras árabes estão sendo substituídas por refugiados eritreus.
Quando o medo chega a esse ponto, em um lado, e quando a desesperança é tamanha, do outro lado, que leva jovens à desesperada decisão de matar e morrer no mesmo ato, a convivência lado a lado torna-se claramente impraticável.
Que os judeus estão convencidos de que os palestinos querem matá-los a todos dão testemunho dois depoimentos.
Primeiro, o oficial, a versão do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu de que foi um sacerdote muçulmano de Jerusalém quem sugeriu a Adolf Hitler o extermínio dos judeus.
É um claro delírio, mas mostra que a mais alta autoridade israelense despreza a ocupação israelense como fonte dos atentados, posto que acha que os palestinos queriam exterminar os judeus antes que Israel fosse criado.
O jornalista David Horovitz ("The Times of Israel"), sem chegar a essa heresia histórica, escreve:
"Em sangrentas e inconfundíveis letras maiúsculas, os que perpetram essa nova rodada de violência diabólica proclamam aos israelenses: Nós não queremos viver ao lado de vocês. Queremos matá-los e forçá-los a sair daqui".
Do lado palestino, o sítio "Al Monitor" informa que um funcionário-sênior do setor de segurança da Fatah (a facção que controla a Cisjordânia) disse que os atentados destes dias são um ponto de virada, "mudando de resolução do conflito para volta ao conflito armado".
O funcionário acredita que, logo mais, o Hamas (o movimento radical que governa a faixa de Gaza) aderirá ao combate, bem como o Hizbullah do Líbano.
"Contamos com que o Egito e a Jordânia ao menos rompam relações com Israel", acrescenta.
E termina com a sinistra observação de que o cenário desenhado "não é uma ameaça, são planos".
Bravata? Talvez, mas são demonstrados cotidianamente o medo invadindo o dia a dia de um lado e o desespero marcando a fogo o outro lado. Como podem conviver?
Texto de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo.
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