Paquistão apoiou uso de drones por EUA
Papéis da CIA mostram cooperação de Islamabad para ataques em território do país ao menos entre 2007 e 2011
Documentos foram publicados pelo jornal 'Washington Post' após governo paquistanês criticar bombardeios
Apesar de o Paquistão ter denunciado publicamente o uso de drones (aviões não tripulados) pelos EUA em bombardeios seletivos a seu território, as autoridades paquistanesas estavam a par dos ataques ao menos entre 2007 e 2011 e prestaram apoio a eles, revelou o jornal "The Washington Post".
A reportagem, que tem como um dos autores Bob Woodward, famoso por ter revelado o caso Watergate nos anos 70, compila dados de arquivos diplomáticos paquistaneses e documentos secretos da CIA que mostram que relatos das ações no período eram compartilhados com o Paquistão.
O material vem a público um dia depois de o primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, se reunir com o presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca, e voltar a criticar os ataques com drones em seu país.
"Abordei o tema dos drones em nossa reunião e enfatizei a necessidade de pôr fim a esses ataques", disse Sharif após o encontro.
Os ataques usando aviões não tripulados são impopulares no Paquistão. Com o discurso público de crítica à prática, o governo local tenta se defender da ira da população, que protesta contra as mortes de civis.
APÓS BIN LADEN
Segundo a reportagem, a CIA informou com regularidade por canais secretos diplomáticos a realização de ao menos 65 ataques com drones no Paquistão, que consentiu com os bombardeios.
Os alvos eram da rede terrorista Al Qaeda, mas também uma ampla lista de suspeitos de terrorismo em seu território. Em um documento, a CIA diz ter feito um ataque de drone "a pedido" do governo paquistanês.
Os documentos também mostram tensão na relação bilateral. Entre eles, há um relato em que a então secretária de Estado Hillary Clinton afirma que "celulares e material escrito coletado nos corpos [dos alvos mortos] apontam todos os dedos" para o envolvimento do serviço secreto paquistanês (ISI) com grupos terroristas.
Os documentos obtidos pela reportagem chegam até 2011, mas não mencionam o evento crucial daquele ano, a operação dos EUA que matou Osama bin Laden em território paquistanês.
O episódio gerou protestos de Islamabad, que alegava não ter sido informada. Acredita-se que após a ação a relação bilateral se tenha deteriorado e a cooperação militar foi, na prática, extinta.
Nos papéis, a CIA praticamente não registra mortes de civis em relatórios de ataques com drones, um contraste com os números de organizações de direitos humanos.
Em relatório nesta semana, a Anistia Internacional cobrou os EUA pela morte de ao menos 30 civis.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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