Imigrante mexicano fez a vida em NY, mas agora não pode voltar
KIRK SEMPLE
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
Se tudo tivesse corrido como o esperado, a esta altura Angelo Cabrera, 40, já teria voltado aos Estados Unidos.
Ele teria retomado sua vida em Nova York, cidade onde sobreviveu por 24 anos como imigrante ilegal, submetendo-se a empregos medíocres, ao mesmo tempo em que concluía duas formações universitárias e dirigia um grupo voluntário de assistência social.
No entanto, está emperrado no México, pois foi proibido de voltar aos EUA. "O que mais me magoa é que passei a maior parte da vida em Nova York. Eu sempre dizia que era 'um cidadão americano sem a devida documentação'."
Para o governo americano, Cabrera teve apenas o que merecia: ele violou a lei de imigração ao viver ilegalmente no país e teve de arcar com as consequências.
Todavia, para os muitos apoiadores de Cabrera em Nova York, sua situação é um reflexo das falhas do sistema de imigração.
Segundo eles, o país cultivou um membro valioso e amplamente respeitado da sociedade, mas agora o excluiu dela. Eles também apontam uma triste ironia: Cabrera voltou ao México em 2014 para tentar legalizar sua situação.
Porém, se jamais tivesse saído, é muito provável que, conforme as medidas relativas à imigração anunciadas pelo presidente Barack Obama em novembro, conseguisse permanecer e trabalhar legalmente nos EUA.
"Ele era muito dedicado a fazer de Nova York uma cidade melhor", disse Robert C. Smith, professor na Faculdade de Administração Pública do Baruch College e mentor de Cabrera. "E agora não pode dar continuidade a isso porque ele não pode voltar."
Cabrera tinha apenas 15 anos quando foi para os EUA em 1990. Ele passou pela fronteira ilegalmente, conseguiu chegar até Nova York, onde morava um primo, e trabalhou por salários irrisórios em mercearias e delicatessens.
Sua vida deu uma guinada nos anos 1990, quando um colega de trabalho se ofereceu para ajudá-lo a ter um diploma do ensino médio.
Cabrera continuou estudando, formou-se em ciências políticas no Baruch College e começou um mestrado em administração pública na mesma instituição. Ele então se envolveu intensamente em atividades de cunho social e em defensoria civil.
Em 2001 fundou a Aliança de Estudantes Mexicano-Americanos, ou Masa na sigla em inglês, um grupo comunitário que dá apoio educacional a crianças e aulas de inglês para seus pais.
Ele também começou a atuar em iniciativas para promover educação e liderança junto à diáspora mexicana, trabalhando em conjunto com a Universidade da Cidade de Nova York (CUNY) e o Consulado do México na cidade.
Todas essas atividades, porém, eram voluntárias, e ele continuava a depender de seu salário como funcionário de uma delicatessen. No início de 2014, o Baruch College precisou de um especialista para trabalhar em iniciativas para atrair mais mexicanos e mexicano-americanos para a CUNY.
Cabrera foi chamado, mas antes precisava voltar ao México, apresentar-se às autoridades americanas e regularizar a situação.
Pessoas que moram ilegalmente nos EUA por no mínimo um ano estão sujeitas a uma proibição de reingressar no país por dez anos, a menos que se qualifiquem para o Programa de Isenção de Visto.
Cabrera esperava que seu currículo brilhante, assim como cartas de apoio da CUNY, do Consulado do México em Nova York e de políticos da cidade, tivesse uma influência positiva sobre os árbitros.
Ele decidiu voltar ao México em 6 de março. Na noite anterior, quase não dormiu, pensando em tudo o que estava em jogo e no retorno à sua cidade, San Antonio Texcala.
Cabrera chegou a San Antonio Texcala e foi recebido efusivamente por sua família e quase toda a população local. O e-mail da Embaixada dos Estados Unidos chegou em 13 de agosto, com as notícias que ele temia.
Segundo a mensagem, seus motivos para retornar aos Estados Unidos "não superam" o fato grave de ter ficado ilegalmente no país durante tantos anos.
Tornando o desfecho ainda mais doloroso, ele seria apto a permanecer legalmente após a mudança das regras anunciada por Obama. Agora só lhe resta aguardar uma nova análise de seu caso pelo Departamento de Segurança Nacional ou recorrer a uma apelação privada no Congresso.
Ele está pesquisando programas de doutorado no México e tem se dedicado novamente à educação de crianças e jovens adultos em sua cidade no Estado de Puebla, na região central do país.
"Eu ainda quero voltar para Nova York", afirmou ele. "Deixei muitas coisas em aberto por lá, mas acredito que faz sentido eu estar aqui, pois tenho a oportunidade de apoiar minha comunidade."
Traduzido por LUIZ ROBERTO GONÇALVES
Reprodução da Folha de São Paulo.
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