Os matadores de Paris, Amedy Coulibaly, 32, e os irmãos Kouachi (Said, 34 e Chérif, 32), estavam ligados ao grupo Buttes-Chaumont, jovens envolvidos no recrutamento de muçulmanos franceses para lutar contra os norte-americanos no Iraque, que foi dissolvido pelos serviços de segurança franceses em 2005.
Depois, foram subestimados como ameaça. Chérif esteve sob vigilância dos serviços franceses de inteligência entre novembro de 2011 e dezembro de 2013, e Said até julho de 2014. A vigilância foi suspensa, a despeito do fato de que Chérif se radicalizou ainda mais no sistema penitenciário francês, onde conheceu Coulibaly. Said operou com a Al Qaeda na Península Arábica, no Iêmen.
Os dois irmãos eram franceses, de ascendência franco-argelina. Coulibaly era francês filho de imigrantes do Senegal.
Os líderes mundiais reunidos em Paris querem, previsivelmente, mais poderes de vigilância. O problema é que eles não usam, efetivamente, aqueles de que já dispõem.
Existem dois heróis nos trágicos acontecimentos em Paris na semana passada.
O primeiro é Yohan Cohen. Foi morto a sangue frio por Amedy Coulibaly, em companhia de três outros reféns no supermercado no leste de Paris. Cohen trabalhava lá há um ano, e tentou salvar um menino de três anos de idade agarrando a arma de Coulibaly. Foi morto com um tiro na cabeça.
Seus pais emigraram do norte da África para a França nos anos 60. Foi enterrado terça-feira em Jerusalém.
O segundo é Ahmed Merabet, 40, o policial assassinado pelos irmãos Kouachi durante a fuga do atentado ao "Charlie Hebdo". Merabet estava a pé quando foi ferido por um tiro. Um dos irmãos caminhou calmamente até ele e o matou com um tiro na cabeça.
Ele nasceu na França, filho de argelinos que se instalaram no país na metade dos anos 50, e foi criado em Livry-Gargan, ao norte de Paris. Foi sepultado no cemitério muçulmano de Bobigny, em Seine-Saint-Denis, também na terça.
Seu irmão, Malek, disse no funeral: "Meu irmão era muçulmano e foi morto por pessoas que fingem ser muçulmanas. Eles são terroristas. É isso. Meu irmão era francês, argelino e da religião muçulmana. Tinha muito orgulho do nome Ahmed Merabet, orgulho de representar a polícia francesa e de defender os valores da república: liberdade, igualdade e fraternidade. Dirijo-me agora a todos os racistas, islamofóbicos e antissemitas. Não se deve confundir extremistas com muçulmanos. A loucura não tem cor e nem religião. Há algo mais que eu gostaria de dizer: parem de retratar a todos igualmente. Parem de queimar mesquitas e sinagogas. Vocês estão atacando pessoas. Isso não trará os mortos de volta. E não confortará nossas famílias".
Texto de Kenneth Maxwell, publicado na Folha de São Paulo. Tradução de Paulo Migliacci.
Nenhum comentário:
Postar um comentário