Apesar de ameaças, editor não se intimidava
Depois de edição parodiando Maomé em 2011, sede do jornal foi atacada
Cartunista Stéphane Charbonnier, defensor da livre expressão, dizia viver 'sob lei francesa, não sob a do Alcorão'
O cartunista Stéphane Charbonnier, 47, diretor editorial do jornal satírico francês Charlie Hebdo que foi morto nesta quarta (7), não se deixava intimidar.
Em 2011, ele publicou uma edição paródia do jornal, em que dizia ter contado com o profeta Maomé como "editor convidado" e comemorava a vitória do partido islamista nas eleições da Tunísia. Prometia cem chibatadas a quem não achasse graça.
Logo depois, a sede do jornal foi alvo de um ataque à bomba e ficou completamente destruída. A edição seguinte à polêmica trazia na capa um muçulmano beijando um chargista.
Ao Le Monde, ele disse não ter medo de ataques. "Não tenho filhos, nem mulher, nem carro, nem crédito", disse. "Talvez soe um pouco pomposo, mas prefiro morrer em pé do que viver de joelhos."
Depois do ataque, Charb, como era conhecido, passou a contar com proteção policial. Mas defendia a liberdade de expressão e não deixou de publicar charges polêmicas. "Usar nossa liberdade em um país livre não é provocação", disse em entrevista à Folha na época. "Publicamos o desenho de Maomé para zombar da sharia."
Em 2012, Charbonnier ignorou advertências do governo francês e publicou charges que mostravam Maomé nu e em poses pornográficas.
"Será que é razoável jogar lenha na fogueira", perguntou Laurent Fabius, chanceler francês na época, ao fechar embaixadas francesas em mais de 20 países, diante dos protestos de muçulmanos.
"Maomé não é sagrado para mim", ele disse. "Eu vivo sob a lei francesa, não sob a lei do Alcorão."
O Charlie Hebdo foi fundado em 1970 depois que a publicação Hara-Kiri, onde os cartunistas Georges Wolinski e Jean Cabut trabalhavam, fechou em meio a críticas por ter satirizado a morte de Charles de Gaulle.
A equipe fundou o Charlie Hebdo, ou Semanário Charlie, em referência à sua publicação das tirinhas do Charlie Brown.
Charb trabalhou no jornal por mais de 20 anos. Nesse período, o Charlie não poupou ninguém: teve capas com o papa Bento XVI abraçando romanticamente um guarda do Vaticano e um judeu ortodoxo beijando um soldado nazista.
Um cartum recente que ele desenhou parece profético. Retrata um homem usando a vestimenta típica de extremistas islâmicos, com uma cara muito infeliz, e os dizeres: "Ainda nenhum ataque na França". No balãozinho, uma frase do extremista: "Calma, ainda tenho até o fim de janeiro para fazer meus desejos de ano novo.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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