O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, propôs na sexta-feira (19) que sejam demitidos da Polícia Militar o major Edson Santos e o tenente Luiz Felipe de Medeiros, acusados de desaparecer com o pedreiro Amarildo de Souza, na Rocinha, em 14 de julho de 2013. Bela ideia, mas tardia.
Desde sua inauguração, em setembro de 2012, a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha era comandada pelo major Edson. Quem conversasse com um morador da favela escutava que o oficial agia como um chefe de milícia. Agressões e extorsões eram o modus operandi da sua tropa (ou de parte dela). Torturar e matar Amarildo foram o corolário de uma rotina de arbitrariedades.
Se Beltrame não tinha conhecimento dessa situação, é grave: o secretário não estava a par da conduta abertamente irregular do comandante de uma das unidades mais importantes do projeto de segurança mais importante do Rio. Se estava, demorou a agir e não evitou o pior. Agora pede as demissões, mas ainda não consegue responder: cadê o Amarildo? Continua-se sem saber o que foi feito do corpo do pedreiro.
O governo estadual pode não ter ouvido queixas na Rocinha porque conversa muito menos do que deveria com os moradores de favelas. Seu principal objetivo parece ser emparedá-los --com fuzis, tanques, caveirões e todo um vocabulário bélico, como "ocupação" e "pacificação"-- para dar a tal "sensação de segurança" ao resto da cidade.
E esse resto ainda faz enriquecer as empresas de segurança privada. Uma delas, com forte presença nos bairros mais ricos e também vencedora da licitação do Maracanã, foi criada e é dirigida por um tenente-coronel da PM que trabalhou na segurança pessoal de Sérgio Cabral.
Em 2007, o então governador chamou a Rocinha de "fábrica de produzir marginal". Este pensamento predomina entre as autoridades do Rio.
Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.
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