Se uma abjeção como o deputado federal Jair Bolsonaro fosse um caso isolado, bastaria ignorá-lo. Mas ele vomita as convicções de muitos Bolsonaros.
Achamos que tudo aqui termina em suaves consensos. Minimizamos a escravidão e continuamos racistas. Legitimamos as ditaduras e permanecemos entusiastas das torturas cometidas diariamente no país.
Ao defender o regime militar, nas ruas ou covardemente na internet, os Bolsonaros dão seu apoio à tortura. Não é tácito, é explícito, pois não há meio termo nesse assunto.
Combates ideológicos podem ser duros e até descambar para conflitos armados. Destruir o corpo de alguém subjugado é covardia que não se justifica por nenhuma razão, porque é a derrota completa da razão.
Qual a diferença entre o que fizeram nazistas, stalinistas e os governos militares brasileiros? Escala? Torturar uma pessoa já é o mal absoluto. Torturar e matar milhares é o mal absoluto banalizado.
"Começaram a me bater. Eles me colocaram no pau de arara. Eles me amarraram. [...] Eles começaram dando choque no peito. [...] Eu comecei a sangrar. Da boca. Sangrava de tudo quanto era... da vagina, sangrava. Nariz, boca... E eu estava muito, muito mal. [...] Veio um dos guardas e me levou para o fundo das celas e me violou."
Como este, há vários depoimentos no relatório da Comissão Nacional da Verdade. Quem tripudia sobre isso é um Bolsonaro. Quem não se importa ao saber que mulheres eram estupradas na frente de seus filhos, que grávidas eram torturadas até abortar, que crianças eram espancadas, estes são Bolsonaros ou nem isso.
"É isto um homem?", perguntou Primo Levi, vítima do nazismo. "Não sei como essas pessoas podiam dormir, podiam seguir vivendo", disse José Carlos Zanetti à CNV sobre seus torturadores. Que não eram alienígenas, mas brasileiros.
Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.
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