O Procurador Geral da República Rodrigo Janot diferencia-se de seu antecessor Roberto Gurgel. É mais preparado, cercou-se dos mais brilhantes procuradores do Ministério Público Federal, ganhou respeito geral da categoria.
Até agora estava se comportado irrepreensivelmente. Para a Operação Lava Jato, indicou um grupo de trabalho formado por alguns dos melhores procuradores do MPF, forneceu-lhes todas as condições de trabalho e tem-lhes dado respaldo. A Lava Jato já é a mais profunda operação contra a corrupção na história do país Os vazamentos têm partido da Polícia Federal e de advogados dos acusados.
Mas quando o assunto é mídia, Janot se apequena tanto quanto seu antecessor.
Bastou uma nota nitidamente provocadora da Veja, e uma reportagem-ameaça da IstoÉ para Janot desabar, sair dando entrevistas e explicações a torto e a direito, passando recibo sobre quem é o poder ao qual se submete. São jogadas manjadíssimas, nas quais embarcou.
O julgamento da AP470, o imobilismo do MPF em relação à CMPI de Cachoeira explicitaram claramente os pontos forte e fraco do MPF. Como ponto forte, a absoluta independência em relação ao Executivo. Como ponto fraco, a absoluta subserviência em relação à mídia, a ponto de provas contundentes de aliança da Veja com o crime organizado não ter merecido uma representação sequer.
Qual a lógica de sugerir ao governo a demissão de toda a diretoria da Petrobras, mesmo com a ressalva de que não se deve fazer pré-julgamentos? Simples: dar satisfações à IstoÉ (!!!!!).
É uma inacreditável prova de fraqueza.
Faltou-lhe a firmeza de um Ricardo Lewandowski, de um Luis Roberto Barroso, de um Teori Savazki, de seu próprio colega Eugenio Aragão.
O episódio Lewandowski demonstrou algo importante. Acompanhou seus pares na maioria das sentenças do julgamento, mas não cedeu à tentação dos abusos. Massacrado pela imprensa, por seus colunistas, alvo de ataques de populares, Lewandowski resistiu. Hoje, seu nome é exemplo de dignidade para o meio jurídico e para os jovens que buscam a profissão do Direito; enquanto Roberto Gurgel, Luiz Fux e Ayres Brito não são lembrados sequer por seus pares.
Em 2002, uma jovem procuradora regional foi alvo de uma reportagem manipulada da revistaVeja, depois de ter entrado com uma ação contra um programa sensacionalista. Depois, foi alvo de matérias desqualificadoras do colunista Artur Xexéo, por exigir um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em uma novela da Globo. Não se intimidou, até porque o que estava em jogo era a própria imagem do Ministério Público que ela prezava. Sua firmeza rendeu-lhe algo inédito na Veja - uma carta publicada na íntegra, inclusive com críticas ao editor Mário Sabino, que havia manipulado a reportagem - e a aceitação, pela Globo, do TAC proposto. Da parte dos veículos, manifestação de respeito ao MPF. E tinha com ela apenas a força da convicção e um cargo de procuradora regional.
Janot é Procurador Geral da República e conta com o respaldo de um verdadeiro estado maior da corporação. Mesmo assim, tremeu.
Que se prendam todos os responsáveis pelas falcatruas. Mas, com a Petrobras sob um fogo especulativo dos mercados internacionais, as declarações de Janot, assim como o envio - agora! - de uma força tarefa aos Estados Unidos, serve apenas para aumentar o risco que paira sobre a empresa. Um mínimo de responsabilidade institucional lhe faria bem.
É bom que se dê conta de que todos seus atos servirão de bom ou mau exemplo para toda a corporação dos procuradores, especialmente quando o poder maior da mídia passar a exigir mais do que a consciência jurídica pode tolerar.
Pelo seu brilhante histórico até agora, espera-se tenha sido apenas um escorregão decorrente da primeira batalha com a mídia.
Reprodução do Blog do Luís Nassif.
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