quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Consumo aumenta, criminalidade cai, e Colorado embolsa US$ 700 mi em um ano de maconha regulamentada


Os cenários catastrofistas não se concretizaram. Um ano após a legalização da venda de maconha para uso recreativo no Estado do Colorado, o balanço da iniciativa é considerado altamente positivo. "As pessoas falavam que os adolescentes iam se jogar na maconha, que os adultos iam ficar chapados e não iam mais trabalhar... Nada disso aconteceu", comemora o advogado Brian Vicente, um dos redatores da Emenda 64, através da qual 55% dos eleitores do Colorado autorizaram, em novembro de 2012, a produção e a venda de maconha aos adultos maiores de 21 anos.
O processo foi muito controlado. O Colorado se encontra na vanguarda da luta pelo fim da proibição, e, por isso, está sendo observado de perto. Por enquanto, a aposta foi um sucesso.
Não se veem nuvens de maconha pairando sobre a cidade. A criminalidade caiu 10%, segundo o FBI, e o número de acidentes de trânsito também. É proibido fumar em lugares públicos, inclusive em parques e cafés. As compras são limitadas: uma onça (28,34 gramas) por pessoa para residentes de Colorado, 7 gramas para visitantes. Cada planta é registrada em um arquivo central informatizado, cada movimento é anotado, cada funcionário é registrado e precisa bater ponto. "Tínhamos dez anos de experiência com a maconha medicinal", explica o advogado.
O "modelo do Colorado", para usar a expressão da Brookings Institution, não pretende desencorajar o consumo, mas sim regulá-lo e tributá-lo – US$ 40 milhões (R$ 108 milhões) do produto dos impostos são destinados às escolas. "Somos guiados por três princípios: evitar que a maconha caia nas mãos de crianças, dos criminosos e de outros Estados", explica Barbara Brohl, diretora do departamento fiscal do Estado. O número de consumidores não é a preocupação principal do poder público. A única missão que ele tinha era "regulamentar a maconha como o álcool."
O próprio Estado não produz, mas concede as autorizações de venda e de produção, e estabelece o número de pés cultiváveis, o que lhe permite exercer um controle sobre a quantidade comercializada. Ele tampouco interfere nos preços: "Por acaso o governo da França estabelece o preço do vinho?", questiona Ean Seeb, do Denver Relief, uma das mais antigas clínicas de Denver.
E o consumo de maconha, aumentou? Os partidários da legalização afirmam que o número de usuários não variou de maneira significativa (já eram 9% dos adultos) e que os "novos" consumidores são ex-fumantes que não têm mais medo de aparecer. De qualquer maneira, as receitas dobraram em um ano. Até o final de 2013, o faturamento da maconha era limitado aos cerca de 110 mil pacientes que usavam maconha medicinal. No final de 2014, ele chegará a US$ 700 milhões (R$ 1,89 bilhão), segundo uma estimativa provisória, ou seja, o dobro. "Está claro que o número de consumidores aumentou", diz Andy Williams, o fundador da Medicine Man, uma clínica que teve um faturamento de 9 milhões este ano (ante 4,5 milhões em 2013).

Boom de trabalho para eletricistas

Outra vantagem para a economia foi a questão do emprego. Mais de 13 mil pessoas trabalham nas estufas e nas lojas, sem contar os empregos indiretos. O Colorado tem vivido um boom de trabalho para os eletricistas, uma vez que as plantas requerem iluminação especial.
Contrariando previsões catastrofistas, o turismo aumentou. Nas estações de esqui, 90% dos clientes das "pot shops" são visitantes. "Tragam o comprovante de seu pacote de esqui e receberão um preço especial: uma onça por US$ 25", prometem as propagandas.
Restam dois pontos obscuros. As autoridades foram pegas de surpresa pela moda dos "comestíveis", que são os biscoitos, brownies, balas e bebidas com doses de cannabis mal compreendidas pelos consumidores. Diversos incidentes – além de crianças chegando ao pronto-socorro depois de terem ingerido "gummy bears" (balinhas de gelatina) de maconha – obrigaram o Estado a endurecer a regulamentação sobre a rotulagem e as dosagens.
As autoridades usaram parte da receita da venda da maconha para financiar uma campanha eduacativa. Como disse o coordenador da legislação para o Estado, Andrew Freedman, "toda a indústria foi criada para pessoas que fumavam com frequência. Ela precisa aprender a educar os recém-chegados ao mercado."
Além disso, Oklahoma e Nebraska entraram com uma ação na última quinta-feira (18) junto ao Supremo Tribunal, acusando o Colorado de ter aberto "uma perigosa brecha no sistema de controle federal das drogas". Para Mason Tvert, do grupo pró-legalização Marijuana Policy Project, "esses caras estão do lado errado da História. As pessoas se lembrarão deles como aqueles que quiseram manter a proibição do álcool após o fim da Lei Seca."

Reportagem de Corine Lesles, para o Le Monde, reproduzida no UOL.

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