Comissão confirma morte de 2 desaparecidos
Na véspera de divulgar relatório final, grupo diz ter achado novas pistas sobre o desaparecimento de Stuart Angel
Análise de perito inglês indicou uma 'clara correspondência' entre crânio achado no centro do Rio e o rosto de Angel
Na véspera de publicar seu relatório final, a Comissão Nacional da Verdade informou nesta terça-feira (9) ter concluído que dois homens tidos até agora como desaparecidos foram de fato mortos pela ditadura militar (1964-85).
Além disso, foram anunciadas novas pistas sobre um dos casos mais notórios de desaparecimento durante o regime --o de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel.
As novidades surgem após 31 meses de trabalho, durante os quais o grupo havia identificado a morte de apenas um outro desaparecido.
As novidades devem constar do relatório a ser entregue à presidente Dilma Rousseff nesta quarta. Ele responsabilizará mais de 300 militares pelas mortes, torturas e desaparecimentos na ditadura.
Diferentemente do lançamento da comissão, em 2012, quando Dilma reuniu todos os presidentes pós-democratização (com exceção de Itamar Franco, já morto), a entrega do relatório nesta quarta deve ser comedida --para não mais que 50 convidados.
Segundo a Folha apurou, os convidados serão parentes das vítimas do regime, como Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog (1937-75) e Vera Paiva, filha do deputado Rubens Paiva (1929-71).
Com o foco em outros problemas do governo, ficou em segundo plano o planejamento de uma grande cerimônia. Quando auxiliares de Dilma se deram conta que não havia nada programado, resolveram fazer um evento discreto. A ideia é que ela faça um discurso mais simples sem, contudo, reduzir o valor histórico do relatório final.
Para o Planalto, o documento apresentado nesta quarta é fruto de muita divergência no âmbito da própria comissão. Houve um momento em que o Planalto chegou a duvidar que um relatório consensual fosse possível devido a brigas internas.
NOVOS CASOS
O primeiro novo caso apresentado ontem é o de Joel Vasconcelos Santos, militante do PC do B, desaparecido em março de 1971. Por meio de um laudo, terminado na segunda (8), a comissão concluiu que as digitais de Santos coincidem com as de um homem que deu entrada no IML do Rio de Janeiro no mesmo dia da prisão de Santos.
"Diante das circunstâncias das investigações realizadas, conclui-se que Joel Vasconcelos Santos foi submetido a prisão, tortura e desaparecimento nas dependências do DOI-CODI, no Rio de Janeiro, em um contexto de sistemáticas violações aos direitos humanos". Será feita a recomendação para que sua certidão de óbito seja alterada.
O segundo novo caso é de Paulo Torres Gonçalves, que não era militante político e desapareceu em março de 1969, antes ir para o colégio.
O Grupo Tortura Nunca Mais já achara documentos mostrando que ele tinha sido preso por militares. A comissão identificou as digitais de Gonçalves na ficha de uma pessoa enterrada como indigente no cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador (RJ).
Sobre Stuart Angel (membro do MR-8 e sequestrado em maio de 1971), a comissão acredita ter se aproximado da localização de seu corpo.
Seguindo depoimentos de militares sobre a prisão de Angel na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, a comissão achou uma imagem de 1976 na qual há um crânio supostamente encontrado num canteiro de obras no centro do Rio, mas da mesma empresa que fez uma reforma na Base Aérea. Uma possibilidade é que o corpo tenha sido levado de um local ao outro.
Uma análise cranofacial feita por um perito inglês indicou uma "clara correspondência morfológica" entre o crânio da imagem e o rosto de Angel.
(JOÃO CARLOS MAGALHÃES, NATUZA NERY, MARIANA HAUBERT)
Reprodução da Folha de São Paulo.
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