sábado, 4 de julho de 2015

Leões voltam a Ruanda 15 anos após população ser exterminada


As leoas sedadas e vendadas estavam deitadas na terra, passageiras involuntárias prestes a embarcar em uma viagem de 30 horas e 4 mil quilômetros de caminhão e avião da África do Sul até Ruanda, cuja população de leões foi exterminada após o genocídio de 1994 no país.

Os conservacionistas então içaram os corpos flácidos para dentro de caixotes, agarrando as grandes patas, caudas grossas e as cabeças imponentes dos animais que antes se atiraram sobre a carcaça de um antílope, usada como isca para atraí-las para mais perto de um veterinário com uma arma de tranquilizantes.

A operação desta semana para levar sete leões sul-africanos para Ruanda, na região centro-leste da África, é uma história positiva em um quadro desafiador para a vida selvagem no continente, onde o aumento da caça ilegal e da invasão humana forçam o habitat a se encolher. Os leões são designados como vulneráveis em uma "lista vermelha" internacional de espécies ameaçadas. Segundo algumas estimativas, há menos de 20 mil leões na natureza selvagem, uma queda de 40% nas duas últimas décadas.

"Não há mais espaço para eles e estão sob pressão cada vez maior", disse o dr. Mike Toft, o veterinário que sedou as cinco leoas na segunda-feira na Reserva Privada de Animais de Phinda, na província KwaZulu-Natal da África do Sul. Um repórter e fotógrafo da "Associated Press" acompanharam enquanto os operadores de guindaste carregavam os caixotes com as leoas em um caminhão que chegou com dois leões provenientes do Parque Tembe de Elefantes. O veículo então seguiu para Johannesburgo para um voo fretado para Ruanda.

O novo lar dos leões é o Parque Nacional de Akegera, onde boiadeiros envenenaram os últimos leões de Ruanda há cerca de 15 anos, após o parque ter sido deixado abandonado após o genocídio. Os refugiados que retornaram tomaram grande parte do parque, reduzindo seu tamanho em mais da metade, para 1.122 quilômetros quadrados, em 1997, segundo o African Parks, um grupo com sede em Johannesburgo que administra Akagera e outros parques nacionais de vida selvagem na África.

O grupo sem fins lucrativos organizou a transferência de leões para Ruanda, que espera expandir o setor de turismo de vida selvagem que se concentra nos gorilas da montanha. A African Parks tentou em vão obter leões no Quênia, Uganda e Tanzânia, que são geneticamente mais próximos dos antigos leões de Ruanda.

Os ruandeses deveriam celebrar o retorno dos leões, escreveu um colunista do "The New Times", um jornal de Ruanda.

"Nós não valorizávamos o que tínhamos (os leões) até desaparecerem", escreveu Sunny Ntayombya. "Então saímos de chapéu na mão, mendigando junto a diferentes países africanos se podiam nos ceder um felino ou dois."

Em Phinda, as cinco leoas com destino a Ruanda se juntaram inesperadamente no cercado aos outros dois leões que abriram caminho até seu interior. Toft teve que sedar todos os sete com dardos antes que os trabalhadores pudessem prender as coleiras de monitoramento por satélite nos cinco animais com destino a Ruanda.

Os leões sedados pareciam vulneráveis, em conflito com a noção popular de leões como realeza animal. Eles estavam vendados com pano e os funcionários do parque e outros se movimentavam em silêncio e falavam baixo para reduzir a chance de despertar algum leão. Alguns fotografaram as faces dos leões, uma oportunidade de apreciar de perto um carnívoro que simboliza a bravura e inspirou "A História de Elsa", "O Rei Leão" e outros livros e filmes de sucesso.

Neste mês, a União Internacional para a Conservação da Natureza notou o sucesso da preservação dos leões no sul da África, mas disse que os leões no oeste da África estão seriamente ameaçados e que um rápido declínio da população está sendo registrado no leste da África. Um parque nacional na Índia também tem leões.

O comércio de ossos de leões e outras partes do corpo para medicina tradicional na África e na Ásia é considerado uma crescente ameaça. E os leões podem facilmente entrar em conflito com as comunidades rurais que dependem de seus rebanhos.

Um leão que escapou do Parque Nacional Karoo, na África do Sul, há três semanas foi capturado na segunda-feira, disseram as autoridades. Um veterinário sedou o leão com um dardo disparado de um helicóptero, que depois transportou o animal da encosta da montanha.

Os leões com destino a Ruanda chegaram na terça-feira em Akagera, onde estão sendo mantidos em quarentena antes de serem soltos na natureza.

Os dois machos pesam 250 quilos cada e já geraram pelo menos 12 filhotes. Andrew Parker, o diretor de operações conjuntas da African Parks, disse que espera que a população de leões de Akagera cresça rapidamente.

Toft, o veterinário, disse que os novos leões de Ruanda tem uma composição genética "diversa" e que a endogamia não deve ser uma preocupação por ora. A África do Sul, ele disse, pode fornecer mais leões ao continente por causa dos números robustos de suas pequenas reservas cercadas. "Nossos leões prosperam", ele disse. "Nós podemos repovoar facilmente muitas reservas."

Reportagem de Christopher Torchia, na Associated Press, reproduzida no UOL. Tradutor: George El Khouri Andolfato.

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