quinta-feira, 23 de julho de 2015

Estreia de cineasta em longa capta inquietude da mudança

CRÍTICA CINEMA/DRAMA


Estreia de cineasta em longa capta inquietude da mudança


Sem sociologia barata, 'Aliyah' retrata obsessão de traficante para emigrar
PEDRO BUTCHERCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alex (Pio Marmaï), jovem de família judia que mora em Paris, quer largar a vida de pequeno traficante de drogas e tentar a sorte em Israel. A chance aparece quando um primo lhe conta que vai abrir um restaurante em Tel Aviv.
Para se juntar ao primo, Alex precisa de duas coisas: passar por entrevistas realizadas pelo governo israelense, para comprovar seu comprometimento com o judaísmo (processo conhecido como "aliyah", que dá título ao filme e envolve testes básicos de hebraico e conhecimentos de cultura judaica) e levantar € 15 mil para entrar na sociedade do restaurante.
Uma das condições básicas para obter o visto de residência em Israel é não ter antecedentes criminais. Para juntar os € 15 mil, no entanto, ele precisa intensificar a atividade de traficante –e torcer para não ser pego.
Mas essa questão dramática (Alex será ou não será pego?) está longe de ser o principal fio de tensão do longa-metragem de estreia de Elie Wajeman. "Aliyah" não é um filme de suspense, apesar de o suspense fazer parte da teia de emoções que envolvem essa decisão obstinada de Alex.
Não serão o irmão problemático, vampiresco, que lhe chantageia emocionalmente e lhe rouba o dinheiro (interpretado pelo cineasta Cédric Kahn) nem a nova e sincera paixão pela jovem Jeanne (Adèle Haenel) que demoverão Alex de sua decisão, profundamente questionada pela família e pelos amigos.
Não há dado preciso que justifique a escolha de Alex por Israel. Não sabemos bem o que pesa mais para ele (o desejo de viver lá ou a vontade de deixar a França).
Mas entendemos seu desejo, que é o desejo de tantos: uma inquietude que, muitas vezes, não tem explicação e que torna os movimentos migratórios uma das forças mais incontroláveis da humanidade, para desespero das instituições de controle.
Elie Wajeman, estreante na direção de um longa (exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes de 2012), conduz com correção esse mergulho na alma do personagem, sem psicologismos ou sociologia baratos.
O filme pode não ter revelado um gênio, mas traz, sem dúvidas, um diretor com controle sobre as ferramentas de linguagem e sobretudo um bom diretor de atores. Uma estreia respeitável e um nome a se ficar de olho, enfim.

ALIYAH
DIREÇÃO Elie Wajeman
ELENCO Pio Marmaï, Cédric Kahn, Adèle Haenel
PRODUÇÃO França, 2012, 16 anos
QUANDO estreia nesta quinta (23)
AVALIAÇÃO bom 


Reprodução da Folha de São Paulo

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