terça-feira, 5 de maio de 2015

Mudar pra quê?


Algumas mulheres que entrevistei disseram que se separaram sem um motivo concreto. Elas afirmaram que o marido era carinhoso, compreensivo e fiel.
No entanto, elas queriam mudar. Sentiam-se insatisfeitas, infelizes e incompletas. A separação era uma necessidade de mudar o rumo da vida e de buscar a felicidade.
Uma jornalista de 37 anos disse: "Ninguém acreditou quando eu disse que iria me separar. Nem ele. Éramos o típico casal perfeito, com dois filhos lindos, um apartamento maravilhoso. Viajávamos muito, éramos companheiros. Mas eu era muito ansiosa, decidi que precisava mudar de vida. Mudar pra quê? Hoje, eu invejo a vida que ele construiu com a segunda mulher. Nunca mais consegui ter uma relação estável, segura e tranquila. A verdade é que eu me arrependo e sinto muita saudade".
Para uma professora de 43 anos, a imaturidade foi o principal motivo da separação.
"Eu era muito imatura. Queria ter novas experiências, achava que iria encontrar o homem perfeito. Ficava irritada com bobagens. Qualquer briguinha eu dizia que queria me separar. Disse tanto isso que um dia ele acreditou e foi embora, para sempre. Sinto falta dele, todos os dias, principalmente quando estou mais frágil. Durante 15 anos ele foi o meu melhor amigo, meu companheiro, meu amor."
Uma médica de 53 anos disse que só consegue lembrar de coisas boas do seu casamento.
"Gosto muito de uma ideia de Nietzsche: Amor fati, amar o nosso destino, amar aquilo o que temos. Só percebi o quanto amava o meu marido, a nossa vida, depois que não teve mais volta. É muito estranho, mas só consigo lembrar do seu carinho, atenção, presença. Parece que tudo era lindo e que ele era perfeito, maravilhoso. Será uma fantasia construída com falsas lembranças?"
As lembranças podem ser manipuladas, e, por algum mecanismo inconsciente, tendemos a valorizar o que não temos, além de não reconhecer o valor do que temos.
Este mecanismo, que produz uma insatisfação permanente, faz com que a ideia de mudança tenha um efeito mágico. Passamos a acreditar que o simples ato de mudar pode melhorar tudo.
Mas, o que acontece se, quando mudamos, sentimos saudade daquilo que um dia tivemos e não podemos ter de volta?


Texto de Mirian Goldenberg, na Folha de São Paulo

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