Tailandeses boicotam cerveja após protestos
Por THOMAS FULLER UDON THANI, Tailândia - Provavelmente era inevitável que, em um país tão obcecado por comida e bebida, o turbilhão político acabasse em cerveja.
A cerveja Singha, fabricada pela Boon Rawd Brewery, a mais antiga cervejaria da Tailândia, é um ícone nacional e um item básico em todos os restaurantes tailandeses do mundo. Mas também se tornou alvo de um boicote informal por alguns tailandeses, irritados pelo fato de que um membro da família que dirige a empresa seja um dos líderes dos protestos contra o governo.
O boicote à cerveja mostra o abismo entre os manifestantes das classes alta e média em Bancoc e os milhões de eleitores nas províncias, que estão atônitos e furiosos com as tentativas dos manifestantes de depor o governo e deter as eleições que quase certamente o restituirão ao poder.
Chitpas Bhirombhakdi, 28, herdeira da Boon Rawd Brewery e uma das principais ativistas nos protestos em Bancoc, foi citada no mês passado dizendo que muitos tailandeses não têm uma "verdadeira compreensão" da democracia, "especialmente nas áreas rurais".
Os comentários provocaram revolta no nordeste do país, região vasta e antes pobre que teve grandes melhoras nas condições de vida e na educação, em parte por causa das políticas de Thaksin Shinawatra, magnata bilionário e ex-primeiro-ministro que é o alvo dos protestos.
Durante décadas, o nordeste da Tailândia forneceu ao país empregados domésticos, operários da construção e motoristas de táxi. Agora também fornece os votos que foram instrumentais para a eleição do partido no governo -que inclui a irmã de Thaksin, a primeira-ministra Yingluck Shinawatra-, que os manifestantes querem depor.
Para os dissidentes do nordeste, Chitpas, política aspirante que é descendente direta de um rei tailandês do século 19, é símbolo de uma classe de Bancoc que não confia que os eleitores rurais farão a opção certa nas urnas.
"Ela é rica e vive em círculos de pessoas ricas -não sabe nada sobre a vida rural", disse Patsadaporn Chantabutr, 45, professor da região de Udon Thani. "Rejeitamos a ideia de que não passamos de caipiras."
Enquanto o boicote se espalhava no nordeste, Chitpas escreveu em sua página no Facebook que está lutando pelo país. Ela acrescentou: "Eu gostaria de lhes informar que jamais desprezei as pessoas do campo".
Alguns lojistas dizem que as vendas das cervejas Singha e Leo, marca mais barata da cervejaria Boon Rawd que é popular no nordeste, caíram acentuadamente perto do Ano-Novo.
Chitpas -que se candidatou sem êxito ao Parlamento em 2011- e outros líderes dos protestos afirmam que a democracia na Tailândia foi subvertida pelo partido governante, especialmente pela poderosa família Shinawatra, que dominou a política tailandesa na última década.
"Não há nada que ela possa fazer para restaurar sua imagem agora", disse Charuwan Thanom, comerciante do nordeste da Tailândia.
"Nós bebemos essa cerveja há muitos anos", disse ela. "O sabor não mudou. Meus sentimentos mudaram."
Reprodução de reportagem do The New York Times, na Folha de São Paulo.
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