Os prédios do conselho regional do vale do Jordão mantiveram uma aparência precária, que lembra quão difícil foi o início dos primeiros colonos em uma das regiões mais inóspitas de Israel, onde a temperatura durante o verão pode ultrapassar os 45 graus Celsius.
Seu diretor, David Elhaiini, fala que o desenvolvimento foi difícil: "Quarenta e cinco anos atrás, não havia nada. Nossa missão era desenvolver a agricultura. Levamos mais de 20 anos para entender quais cultivos vingariam nesta terra árida, mas o vale do Jordão é hoje um caso de sucesso."
Isso foi após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. O vice-premiê da época, Yigal Allon, havia dado seu nome a um amplo plano de colonização do vale --que está na Cisjordânia ocupada--, explicando que se tratava somente de "fronteiras defensíveis" do Estado judaico com o leste. Um outro termo se popularizou, cujo "pai" é o ex-ministro das Relações Exteriores, Abba Eban: ele falava das "fronteiras de Auschwitz", uma maneira de dizer que, se as de 1967 não fossem solidamente mantidas para sempre, Israel correria o risco de ser exterminado.
Se as duas expressões hoje estão sendo retomadas com frequência por políticos da direita israelense, é porque a questão da futura soberania do vale do Jordão está no centro das negociações de paz entre israelenses e palestinos.
Neste início de janeiro, estamos no cume de uma alta colina no posto militar de observação de Gidron, em companhia de Uzi Dayan, ex-chefe do estado-maior adjunto do exército israelense e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança. A paisagem é composta somente de pedras, até esse corredor verde constituído de palmeirais e estufas de hortaliças que se estende até o fundo do vale, dominado pelas montanhas da Jordânia.
Mais abaixo, é possível ver os prédios do conselho regional, situados na Rodovia 90, que sobe na direção do lago de Tiberíades. Uzi Dayan aponta para a paisagem com um gesto: "É a única região onde podem se situar as fronteiras defensíveis de Israel. Entre o reino hachemita e o local onde estamos, são 9 a 15 quilômetros. É nossa profundidade estratégica mínima."
No dia 29 de dezembro, um comitê ministerial aprovou um projeto de lei que prevê a anexação do vale do Jordão. Uma votação puramente simbólica, mas que passava uma mensagem política a Washington e aos palestinos. Dois dias mais tarde, o governo palestino se reunia em um vilarejo do vale para tentar afirmar ali sua soberania. Apoiados pela maioria dos especialistas ocidentais, os palestinos afirmam que, sem ele, seu futuro Estado não será viável economicamente.
A região oferece a única reserva de terras para desenvolver zonas urbanas, bem como projetos agrícolas e turísticos, ainda mais pelo fato de que o novo Estado palestino deverá receber milhares de refugiados da diáspora. Sem ela, a Palestina será somente um Estado remanescente totalmente isolado. Mas Israel menospreza esses argumentos, afirmando que sua "segurança" é primordial.
Foi isso que levou Youval Steinitz, ministro encarregado das relações internacionais, a rejeitar secamente as propostas americanas para garantir a segurança na região. "A segurança deve continuar nas nossas mãos", ele afirma. "Todos aqueles que estão propondo uma solução que consiste em empregar uma força internacional, desde policiais palestinos até meios tecnológicos, não entendem nada de Oriente Médio." O ministro da Defesa, Moshe Yaalon, vai além: defensor determinado dos assentamentos, ele insiste que "onde os judeus não vivem não existe segurança."
Isso reforça as explicações estratégicas de Uzi Dayan: "Entre o Jordão e o Mediterrâneo, há 64 quilômetros, e o Iraque esteve envolvido em todas as guerras contra Israel desde 1984. Se não quisermos que essa região se torne um outro Líbano ou outra Gaza, precisamos fazer a segurança dos entornos do vale do Jordão. Com o que está acontecendo na Síria, imagine onde estaríamos se não tivéssemos mantido as colinas de Golã!"
No entanto, Meir Dagan, ex-diretor do Mossad (serviço secreto israelense), afirma que o vale do Jordão não é necessário para a segurança de Israel, e que aqueles que alegam que o Estado judaico deve se precaver contra "uma frente Oriental" estão fazendo uma "manipulação".
O especialista israelense Dror Etkes deu ao "Le Monde" a seguinte explicação: embora os palestinos representem 90% dos habitantes do vale do Jordão (ou seja, 80 mil pessoas), eles praticamente não têm acesso às suas terras, amplamente sob controle dos 9.500 colonos judeus da região. Sua argumentação é simples: Israel está colonizando a Cisjordânia bem mais através do desenvolvimento agrícola do que da construção civil.
É preciso mais para abalar as certezas de David Elhaiini. Ele explica que 6 mil palestinos e 600 trabalhadores tailandeses são empregados (em regime diário) pelos três kibbutzim e 15 moshavim (cooperativas agrícolas) que dependem do conselho regional. "Temos ótimas relações com os palestinos, mas é nossa terra: tudo que vocês estão vendo, nós construímos com nossas mãos", ele afirma.
É com orgulho que Enon Rosenblom, fazendeiro na moshav Naama, mostra suas estufas, lembrando que 66% das exportações agrícolas de Israel vêm do vale do Jordão. "Os palestinos de Awja – um vilarejo próximo – nos haviam dito 'vocês não têm nenhuma chance de ter sucesso na agricultura': e veja o resultado!" Enon Roseblom explica que cada uma das 35 famílias da moshav paga ao Estado um aluguel de 1.000 shekels (R$ 680)... por ano.
"É uma terra do Estado, que ninguém mais reivindicou", ele diz, disposto a aceitar que o vale do Jordão passe para controle palestino após um acordo de paz, ao mesmo tempo em que diz: "Faremos de tudo para impedi-lo."
Reportagem de Laurent Zecchini para o Le Monde, reproduzida no UOL.
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