Hoje tem audiência pública sobre a Operação Zelotes na capital gaúcha. É a investigação, sob a responsabilidade do procurador Frederico Paiva, que trata do pagamento de propinas por empresas para economizar com a Receita Federal. Na lista estão empresas gaúchas: RBS, Gerdau e Marcopolo. A RBS teria pago R$ 15 milhões por fora para não ter de entregar R$ 150 milhões ao fisco. O rombo apurado pela Zelotes bota o da Lava-Jato no chinelo: mais de R$ 600 bilhões. Tenho acompanhado de perto, como jornalista, a Zelotes. Já fizemos entrevista no Esfera Pública, da Rádio Guaíba, com o procurador Paiva.
Eu fui o primeiro a informar, no twitter, que um gaúcho seria citado na rede da Zelotes. Sabia que era Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União, o homem que quer pedalar Dilma Rousseff da presidência da República para alegria da oposição. Eu soube disso logo depois das diligências feitas na pacata cidade de Santo Ângelo.Por prudência jornalística, dei as pistas, mas não o nome, em seguida citado pela revista CartaCapital, pelo blogue Cafezinho e depois noticiado pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. A mídia tentou, mas não conseguiu guardar a notícia no cofre.
A Zelotes mexe num pulgueiro. Muita gente boa acha que sonegar não é crime. Nas manifestações verde-amarelas contra Dilma, em março, abril e agosto, havia cartazes defendendo que sonegar é ato de legítima defesa. O assunto dificilmente chega às manchetes dos telejornais globais. Mesmos os parlamentares não se ocupam dele. A grande exceção é deputado gaúcho Paulo Pimenta (PT).
Felizmente o juiz Ricardo Augusto Soares Leite – que sentava em cima de todas as demandas do Ministério Público, como o pedido de prisão de 26 suspeitos – foi substituído. O procurador Frederico Paiva não estava com a “sorte” de contar com um juiz Sérgio Moro. Por que será?
Terá a ver com o fato de investigar poderosas empresas de comunicação?
Seis empresas integram a lista das favoritas para constar na relação das primeiras denunciadas pelo Ministério Público. A RBS e a Gerdau estão entre elas. Os céticos garantem que nenhum grã-fino conhecerá um par de algemas nem as instalações de uma prisão ao estilo paranaense. O buraco seria mais embaixo ou muito mais acima. O Brasil tornou-se um país tragicômico. Chora-se e ri ao mesmo tempo. Convulsivamente. Investigadores são investigados. Moralistas não têm moral. Controladores de contas passam a ser controlados pela análise do que passaram ou apagaram. Ninguém parece escapar. O olhar da mídia, contudo, é bastante seletivo. O bacana seria juntar a Zelotes e a Lava-Jato numa purificação total da nação. Os que se entusiasmam com a Lava-Jato tendem, contudo, a não sentir tesão pela Zelotes.
A Lava-Jato detonou a relação dos políticos com as empreiteiras. A Zelotes traz à tona as nada republicanas relações de empresas de ramos variados com intermediários para sangrar o tesouro nacional pela burla à Receita Federal. Sem políticos na jogada, a mídia perde um pouco do interesse pela novela. Com mídia na parada, o resto do interesse vai pelo ralo. Sonegar é como estupro. Cadeia.
Chegará o tempo utópico de ver atrás das grades os que sonegam impostos?
Reprodução do Blog do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo.
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