Quem tem mais equipamento para discutir uma carga tributária: os Frias e seus editorialistas ou o economista francês Piketty?
Minha pergunta se deve a que, no editorial infame em que dá um ridículo ultimato a Dilma, a Folha fala que a carga tributária brasileira é “obscena”.
Que dados sustentam uma afirmação tão peremptória e tão leviana?
Nenhum.
Em sua passagem pelo Brasil, Piketty falou sobre os impostos nacionais com mais riqueza e mais profundidade do que o conjunto do conteúdo produzido, em muitos anos, pelas empresas jornalísticas.
Vamos do básico.
A carga tributária do Brasil se situa em torno de 35% do PIB. O país está mais ou menos no meio do caminho, como notou Piketty em seu divertido inglês afrancesado ao falar para plateias brasileiras.
Mais para cima, com cargas na casa dos 50%, você tem os países escandinavos, os mais avançados socialmente do mundo.
Mais para baixo, com cargas na casa dos 20%, você tem países como Romênia e Bulgária, socialmente primitivos.
Perguntou Piketty: o que vocês querem ser, Escandinávia ou Romênia?
A Folha não quer que o Brasil seja a Escandinávia, é claro. Nem as demais grandes corporações jornalísticas.
Por uma razão: elas teriam que pagar o imposto justo.
Na Editora Abril, chamávamos as campanhas regulares antiimpostos de “Pautas do Roberto”. Roberto é, ou era, Roberto Civita.
Contra todas as evidências, as revistas Veja e Exame viviam em meu tempo – vivem ainda, imagino – alimentando a falácia da “obscena carga tributária” nacional.
Ora, obsceno é os ricos pagarem tão pouco no Brasil.
O sistema brasileiro é cruel. A principal fonte de receita de impostos vem do consumo, o que dá no seguinte. Os Frias e os mendigos da Barão de Limeira pagam a mesma coisa ao comprar um maço de cigarros ou uma Coca Cola.
Obsceno, para seguir por aí, são os 4% pagos pelos herdeiros de Octavio Frias de Oliveira a título de imposto sobre herança.
É uma ninharia, é um insultos.
Na França e na Inglaterra, o imposto sobre herança é dez vezes maior.
As companhias de jornalismo criaram o mito – terrível para a sociedade – de que os brasileiros pagam muitos impostos. Também forçaram no mito de que o dinheiro arrecadado termina nas mãos de corruptos.
Impostos constroem escolas, pavimentam ruas e estradas, viabilizam hospitais, pagam professores etc etc.
Você pode, perfeitamente, controlar o uso que se dá ao dinheiro dos impostos. Basta haver um choque de transparência na Receita Federal.
Hoje, é uma caixa preta indefensável.
Há um bom tempo sabe-se que a Globo sonegou brutalmente na compra dos direitos da Copa de 2002.
A Receita jamais se manifestou sobre o assunto.
Meses atrás, o Bradesco foi flagrado num esquema de evasão fiscal com base no uso de um paraíso fiscal.
Pouco depois disso, o presidente do Bradesco foi convidado para ser o ministro da Economia de Dilma. Como ele recusou, o convite foi passado a um diretor do banco, Levy.
Qual a mensagem que se passa aos brasileiros que pagam impostos com este tipo de atitude do governo?
A pior possível.
Isso sim é obsceno, e não, como disse falaciosamente a Folha, a carga tributária brasileira.
Texto de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.
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