O jornal Folha de S. Paulo, junto com Jornal do Brasil, O Globo e O Estado de S. Paulo, foi um dos pilares da ditadura militar de 1964. A Folha ficou famosa por emprestar suas camionetes para a OBAN transportar gente a ser torturada. Nos últimos tempos, a Folha vinha tentando não mostrar muito apetite por um golpe branco no Brasil. Mas cachorro comedor de ovelha não tem jeito. No último domingo, o jornal de Otávio Frias Filho, num editorial intitulado “Última chance”, voltou às suas origens golpistas: pediu a renúncia da presidente Dilma Rousseff ou o corte de programas sociais: ”O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa”.
Forçar um presidente eleito a renunciar em função da crise é uma forma de fazer o jogo de uma oposição incapaz de ter paciência para esperar a eleição seguinte. É a obsessão pelo atalho. A mídia brasileira não se contém mais. Empurra a própria oposição a ser mais radical. A Folha de S. Paulo elegeu o seu bode expiatório: “A contenção de despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência, cujas regras estão em descompasso não só com a conjuntura mas também com a evolução demográfica nacional. Deve mirar ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos programas sociais”. É uma confissão. A corrupção, que grassa e deve ser combatida, tem sido um pretexto para atacar o que realmente incomoda, os “desembolsos para programas sociais”. Eis.
Para salvar a turma dos camarotes, o editorial da Folha defendeu sacrificar a educação e a saúde: “As circunstâncias dramáticas também demandam uma desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro”. Numa tentativa pífia de mostrar-se equilibrada, a Folha dispensa uma linha para aumentos de impostos com novas alíquotas “sobre a renda dos privilegiados”. Nada sobre taxar grandes fortunas ou pesar a mão sobre os lucros dos bancos. Nas redes sociais, o pau comeu. Simultaneamente, no site da Folha, quem clicou no malfadado editorial passou a receber a seguinte mensagem: “Erro 404 Desculpe, página não encontrada. A página que você procura não existe nos servidores da Folha de S. Paulo”.
Hummm!
No jogo de banco imobiliário da política brasileira, a oposição quer aproveitar a crise para chegar logo ao poder. Se fosse mais séria, ajudaria a equilibrar o país agora e se cacifaria para ganhar o próximo pleito. Do ponto de vista econômico, trata-se de aproveitar a situação para voltar várias casas atrás anulando o melhor dos governos petistas, a consolidação e ampliação dos programas sociais. A direita passou anos dizendo que não havia mais esquerda e direita. Nos últimos meses, desmentiu-se totalmente. Nunca a dicotomia esquerda e direita foi tão forte no Brasil no século XXI. O PT não é esquerda?
Não. Mas o que fez de melhor, na mira da direita, era.
No passado, o PT fez discurso moralista e atrapalhou os negócios seculares.
Ninguém o perdoa por isso.
Depois, entrou nos eixos e passou a fazer como todos.
Se não tivesse prejudicado as transações do passado e não tivesse mania de programas sociais, teria sido perdoado, faria parte do clube como qualquer um e viveria tranquilamente no reino encantado da corrupção. Não é o seu presente que incomoda os seus adversários, mas o seu passado.
O PT mudou. Para pior.
Só a mídia não muda. Muitos menos para melhor.
Continua golpista.
Reprodução do Blog do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo.
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