Ao sair de Brasília para encontrar-se com a secretária de Segurança Nacional dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores levava uma bagagem politicamente simples: o Brasil não deixou de condicionar a restauração das relações com os EUA, e em particular com o governo Obama, ao pedido de desculpas pela violação das comunicações da presidente e do governo brasileiros, revelada por Edward Snowden.
Não era, por certo, o que Susan Rice esperava de Luiz Alberto Figueiredo, o que explica a brevidade do encontro depois da demorada viagem por ela pedida ao ministro. Menos de 45 minutos foram suficientes para os gestos protocolares, de chegada e de saída, e para o recheio com a explicação sobre as medidas --poucas, superficiais e sem garantias -- anunciadas pelo próprio Obama na Agência Nacional de Segurança (NSA), a cidadela da espionagem.
Menos de 24 horas antes do encontro infrutífero em Washington, Angela Merkel, ao inaugurar na tribuna do Parlamento o seu terceiro mandato de chefe do governo alemão, dedicou duros e inteligentes parágrafos à espionagem americana, que também a visou. E, inevitável, ao discurso de Obama em defesa da NSA. "As ações em que os fins justificam os meios, nas quais o uso da técnica não tem limites, traem a confiança e instauram a desconfiança."
Os alegados fins da segurança a justificarem os meios. Razão bastante para a afirmação de Merkel, talvez jamais ouvida pelos americanos na voz de um aliado, de que Alemanha e Estados Unidos "estão muito distantes quando se trata de ética", entre "a liberdade e a ação do Estado". É estupendo que palavras assim venham da Alemanha.
Mas historicamente grandioso para a Alemanha e seu povo, não para a humanidade. Porque são palavras dirigidas a um país e um povo que outrora as diziam ao mundo e hoje são os destinatários delas. Se não as ouvem cabisbaixos e enrubescidos, é por superpotência significar, na realidade, superprepotência.
Trecho da coluna de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo.
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